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COVID-19: EUA e a competição internacional por equipamentos médicos

Por José Braga, redação do Universidade à Esquerda
03 de abril, 2020 Atualizado: 13:44

O crescimento da propagação da pandemia de COVID-19 (corona vírus) têm enorme proporção:  mais de 1 milhão de pessoas já foram infectadas pelo mundo, e a tendência é de que muitas mais ainda se contagiem. Com isso, um conjunto de Estados Nação tem realizado uma corrida para a compra de equipamentos médicos, como máscaras e respiradores. 

A COVID-19 tem se espalhado largamente em países de capitalismo central, como a Itália, Espanha, Alemanha, Reino Unido, e especialmente nos Estados Unidos (EUA). Este último se tornou o país com maior número de casos, com mais de 250 mil pessoas infectadas. Nesta semana, muitas foram às notícias de países que “perderam” suas compras de equipamentos para os EUA.  

No Brasil, o ministro da saúde declarou que compras de respiradores contratados com fornecedores chineses foram canceladas em função de compras estado-unidenses. Outra carga de respiradores compradas pelo governo da Bahia ficou retida no porto em Miami (EUA), e o contrato de compra com o fornecedor foi cancelado. Máscaras de proteção destinadas a França foram compradas por negociadores dos EUA à beira de embarcar nos aeroportos. 

Na competição pela compra de equipamentos médicos e de proteção aos trabalhadores (máscaras, trajes de proteção, etc.) tem evidente vantagem os países de capitalismo central, e dentre eles os EUA. Estes países podem dispor relativamente do peso de suas economias para pagar mais pelos produtos que os demais países. 

Aparentemente, a tendência é de que nas próximas semanas a procura destes produtos por estes países ainda seja forte, tendo em vista os dados da propagação da COVID-19: EUA – 261.438 pessoas infectadas; Itália – 119.827; Espanha – 117.710; Alemanha – 89.838; França – 65.181; Reino Unido – 38.688. Isto significa que para as economias dependentes às dificuldades serão imensas.

O subdimensionamento da propagação pela falta de testes, a falta de aparelhos para o tratamento e de equipamentos para a proteção dos trabalhadores que não podem ficar em isolamento social (dentre os quais especialmente os trabalhadores da saúde que tem risco de contágio mais elevado), são problemas que tendem a se agravar na América Latina, na África, em alguns países asiáticos e europeus. A lógica da competição pelas compras massivas destes produtos no mercado mundial significa hoje dizer quais povos terão mais chances de viver.

E embora esta deva ser a tônica dos próximos dias e semanas não é a única estratégia possível. Nós podemos mais do que isso. Nós podemos buscar uma estratégia que tenha a solidariedade como fundamento. 

A pandemia não poupou nenhum país e região do mundo. E por isso nós poderíamos buscar uma estratégia de ação internacional, que diga que ninguém será deixado à própria sorte. Isto exigiria de nós muito.

Precisaríamos de um esforço de mundial de converter temporariamente parte dos parques industriais para produzir os equipamentos necessários. Por exemplo, um esforço rápido para adaptar parte das indústrias automotivas (montadoras, produção de autopeças), de eletrodomésticos para produzir respiradores, máscaras e trajes. Ou ainda, mobilizar a indústria de construção pesada para produzir novas plantas em tempo recorde. 

Isto por sua vez exigiria destacar contingentes de trabalhadores em condições dignas para realizar esta produção, bem como para a distribuição destes materiais ao redor do mundo. 

Teríamos que coordenar a distribuição dos produtos em escala global, considerando os países e regiões mais afetadas no momento, os países com menor estrutura para lidar com o surto. Bem como coordenar os esforços financeiros de tal empreitada, sabendo que há países que precisam receber os equipamentos e que não tem como arcar com os custos.    

Nós podemos muito, desde que passemos a alterar o fundamento de nossa vida social.   

*Os textos de debate são de responsabilidade dos autores e podem não refletir a opinião do jornal


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