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Brasil é o país com o maior número de profissionais de saúde mortos pelo Covid-19; qual a situação destes trabalhadores?

Por Helena Lima, redação do Universidade à Esquerda
18 de maio, 2020 Atualizado: 21:30

O Brasil, no dia 14 de maio, tinha 31.790 mil profissionais da saúde infectados pelo coronavírus e outros 114 mil casos suspeitos, segundo dados do Ministério da Saúde. Dentre os casos suspeitos, 34,2% são técnicos ou auxiliares de enfermagem, 16,9% enfermeiros, 13,3% médicos e 4,3% recepcionistas.

No dia 5 de maio, de acordo com os últimos dados divulgados pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), o Brasil tinha 98 óbitos registrados de profissionais da saúde pelo coronavírus, concentrados principalmente nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. 

Estes dados, no entanto, são de treze dias atrás, quando o Brasil tinha 7,9 mil mortes, menos da metade do que tem hoje.  Os casos estão crescendo muito rápido no país, o número de novos casos na última semana foi de 78,3 mil.  

O Brasil é o país com o maior número de mortes registradas de profissionais da saúde pelo Covid-19, ultrapassando o país mais atingido pela epidemia, os Estados Unidos, que contabiliza 91 óbitos de profissionais da enfermagem. Em todo o mundo, foram mais de 260 mortes de profissionais da enfermagem e 90 mil estão infectados com a doença.

Estes números, no entanto, estão dentro de um quadro de subnotificação no país. O Estados Unidos, por exemplo, possui cerca de 36 mil testes a cada um milhão de habitantes, enquanto o Brasil possui 3 mil, segundo dados do World Meters. Assim, muitos brasileiros estão morrendo e não são relatados como casos de coronavírus.

A situação dos trabalhadores da saúde em meio à epidemia no Brasil

O alto grau de contaminação dos profissionais de enfermagem no Brasil corresponde, em parte, à escassez de equipamentos de proteção individuais em diversos hospitais no país, ou à disponibilização de materiais de proteção inadequados. A Cofen recebeu milhares de denúncias nas últimas semanas.

Dentro deste cenário de exposição ao vírus, 86,6% dos profissionais da enfermagem no Brasil são mulheres. Estas trabalhadoras, muitas vezes as únicas responsáveis pela criação dos seus filhos e pelo trabalho doméstico, enfrentam o medo de transmitir a doença dentro de suas casas. Além disso, os baixos salários no setor da saúde carregam estas mulheres para uma jornada tripla de trabalho.

Os profissionais de saúde assistiram à um achatamento salarial nas últimas décadas no Brasil. Mais de 60% destes trabalhadores ganham menos que dois salários mínimos, R$2 mil por mês, e mais de 38,7% têm jornadas superiores a 41 horas semanais. Cerca de 3,5% da categoria recebe mais de R$5 mil por mês.

O coronavírus surge em um cenário de desmonte dos sistemas de saúdes, que está em curso há décadas em todo o mundo. O colapso nos sistemas de saúde durante a epidemia do coronavírus, que hoje é realidade em diversos países, é fruto de profundas precarizações provocadas pelas crises econômicas do capital desde o final do século passado.

Leia também: Desmonte dos sistemas de saúde atesta imbricação entre crise e pandemia.

Este desmonte não refletiu apenas no achatamento salarial dos trabalhadores da saúde, como na redução de leitos hospitalares e queda no orçamento destinado à assistência hospitalar e ambulatorial. Em março de 2020, por exemplo, quando a epidemia do coronavírus chega ao Brasil, 90% dos leitos hospitalares estavam ocupados por outras doenças. 

Os profissionais da saúde, dessa maneira, assistem à chegada no coronavírus em uma situação completamente precarizada, com baixos salários e jornadas de trabalho muito altas. Além disso, enfrentam risco e estresse, em meio à falta de leitos e equipamentos, pela incapacidade do Estado em dar uma resposta à altura da crise humanitária, estando engolido pela crise econômica.

Foto: Profissionais da saúde protestam contra as mortes da categoria, em Brasília.

*Os textos de opinião são de responsabilidade dos autores e podem não refletir a opinião do jornal.


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