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De 69 universidades federais, 27 têm data para o início do EaD
Ao ponto que descemos o país, a adesão ao ensino a distância aumenta.
Na semana passada, dia 2 de julho, o jornal Universidade à Esquerda coletou informações de todas as universidades federais do país para compreender o caminho que as instituições estão tomando em relação às atividades de ensino. A pesquisa foi feita com base nos debates e decisões dos Conselhos Universitários e dos movimentos de oposição que estão surgindo em diversos lugares do país.
Segundo o portal do Ministério da Educação, dez universidades federais estão realizando aulas remotas e seis estão com aulas parciais. A pesquisa nos mostrou, no entanto, que pelo menos 27, das 69, instituições já iniciaram as aulas a distância ou estão com a data marcada para o retorno remoto.
Mesmo nas outras 42 universidades que não aderiram ao ensino a distância, em sua maioria o debate dos conselhos está se encaminhando para a implementação das atividades curriculares remotas.
Existem muitas semelhanças nas ações sobre os calendários das universidades durante a pandemia. A primeira é a de realizar o debate do ensino a distância nos conselhos como um problema técnico a ser resolvido, de dificuldades de acesso etc, e dessa forma, não conseguir desenhar outros debates e caminhos para as instituições.
A segunda semelhança é a de diferenciar o “ensino a distância” do “ensino remoto emergencial” (ou excepcional). Existe uma preocupação quase geral de demonstrar uma excepcionalidade da modalidade neste momento e diferenciá-lo do “EaD” que reina nas universidades privadas; ao mesmo tempo que entende que esta saída é possível para as atividades de ensino, legitimando o “EaD”.
Por fim, mesmo em universidades que ainda não aderiram ao ensino remoto, a formação intensa de professores se tornou uma premissa para a implementação do ensino a distância. Pelo menos quinze das universidades que retornaram as aulas estão realizando “treinamento” dos docentes, para uso de plataformas, como da Google e da Microsoft, e para orientar diretrizes pedagógicas.
Os outros horizontes possíveis estão surgindo, principalmente, em movimentos de oposição que começam a aparecer pelo país. Em algumas universidades as campanhas contra o ensino a distância surgiram depois da experiência desastrosa do ensino a distância; em outras instituições, os movimentos estão aparecendo antes da implementação, com base, também, nos relatos das outras universidades.
O levantamento a seguir apresenta nas tabelas, por região, as universidades federais que aderiram ao ensino remoto e as respectivas datas de início do semestre. Ao ponto que descemos o país, a porcentagem de instituições que aderiram ao ensino remoto aumenta.
Norte
Universidade Federal do Amazonas | 08.05 |
Universidade Federal do Tocantins | 27.06 |
Universidade Federal Rural da Amazônia | 18.05 |
No norte do país, das onze universidades federais, três já iniciaram o ensino a distância. Na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), as atividades autorizadas são apenas extracurriculares; na Universidade Federal de Tocantins (UFT), segundo o portal do MEC, as atividades são “parciais”; e na Universidade Rural da Amazônia (UFRA), as atividades são de caráter curricular.
Trinta por cento das universidades federais aderiram ao ensino a distância, uma porcentagem baixa em relação às outras regiões do país. No entanto, nos outros Conselhos Universitários o debate também está voltado para implementação da modalidade, com uma preocupação muito grande do acesso digital dos alunos. Na Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), o conselho discutiu que a conexão à internet e o alcance digital em sua região é muito inferior à média nacional.
Nordeste
Universidade Federal da Paraíba | 08.06 |
Universidade Federal de Sergipe | 22.06 |
Universidade Federal do Ceará | 01.07 |
Universidade Federal do Rio Grande do Norte | 15.06 |
Universidade Federal do Maranhão | 15.07 |
No Nordeste, cerca de 30% das universidades federais aderiram ao ensino à distância. Na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), na Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) as atividades são curriculares, mas “não obrigatórias” para professores e alunos.
Na Universidade Federal do Ceará (UFC), o reitor interventor nomeado por Jair Bolsonaro, Cândido Albuquerque, implementou o ensino remoto na universidade. Os professores da UFC estão lutando contra a política da reitoria, que está tentando forjar uma normalidade inexistente, segundo o sindicato dos docentes.
Em outras universidades federais do nordeste do país, a discussão sobre o ensino a distância não teve uma posição definitiva, os conselhos estão realizando consultas sobre as condições de acesso do corpo universitário; é o caso da Universidade Federal da Bahia (UFBA), do Sul da Bahia (UFSB), do Recôncavo da Bahia (UFRB), do Cariri (UFCA), de Pernambuco (UFPE) e da Rural de Pernambuco (UFRPE).
A política de um período de formação intensiva dos docentes, com manuais ou vídeos de “capacitação” está acontecendo na UFRPE, UFRN, UFMA e UFPE.
Centro-oeste
Universidade Federal de Goiás | 31.08 |
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul | 17.03 |
Universidade Federal de Rondonópolis | 06.07 |
Cerca de 40% das universidade do centro-oeste, três de oito instituições, têm data para iniciar o ensino à distância. Na Universidade Federal de Goiás (UFG) as atividades autorizadas para iniciar no fim de agosto são curriculares. Na UFG, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) está realizando um movimento contra o ensino remoto, em conjunto com a universidade estadual (UEG) e o instituto federal (IFG).
Na Universidade de Brasília, o debate sobre o ensino à distância está em andamento no Conselho Universitário. A proposta que está surgindo indica para um retorno em fases das atividades de ensino, onde a primeira seria de maneira totalmente remota.
Na Universidade Federal de Grande Dourados (UFGD) a reitoria interventora anunciou o retorno das aulas a distância; desde então, todas as categorias da universidade organizaram uma campanha contra a precarização do ensino, contra o ensino remoto.
Sudeste
Universidade Federal de Alfenas | 03.08 |
Universidade Federal de Itajubá | 06.04 |
Universidade Federal de Lavras | 01.06 |
Universidade Federal de Minas Gerais | 03.08 |
Universidade Federal de São Carlos | 04.05 |
Universidade Federal de Viçosa | 08.06 |
Universidade Federal do ABC | 20.04 |
Universidade Federal do Espírito Santo | 24.06 |
Universidade Federal do Rio de Janeiro | 01.07 |
Metade das universidades federais do sudeste já aderiram ao ensino a distância. Com exceção da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), as atividades autorizadas para o retorno são curriculares.
Além destas, a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), de Uberlândia (UFU), do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e a Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) estão com os debates nos Conselhos Universitários encaminhados para a implementação do ensino a distância ainda em 2020.
Os movimentos de oposição ao ensino remoto estão surgindo em muitas universidades, como na UFRJ e na UFRRJ, pelos professores e pelos estudantes. Além das federais, o corpo universitário das estaduais também está se manifestando contrários à modalidade, como na Universidade de São Paulo e na Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
Sul
Universidade Tecnológica Federal do Paraná | 03.08 |
Universidade Federal da Fronteira Sul | 09.04 |
Universidade Federal de Pelotas | 22.06 |
Universidade Federal de Santa Maria | 17.03 |
Universidade Federal do Pampa | 20.07 |
Universidade Federal do Paraná | 29.06 |
Universidade Federal do Rio Grande do Sul | 22.07 |
No sul, cerca de 65% das universidades já tem data para iniciar o semestre a distância ou já iniciaram.
Até então, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) é a única com mais de dez mil estudantes que não tem data para o inicio das aulas, mesmo que o debate no Conselho Universitário tenha se encaminhado para o ensino a distância. Movimentos de estudantes estão surgindo na UFSC para barrar as aulas remotas, e docentes se reuniram para escrever um manifesto contra o “ensino remoto.”
Na Universidade da Fronteira Sul (UFFS), a reitoria interventora autorizou as aulas a distância ainda em abril. No entanto, diversos relatos indicam que a adesão está muito baixa, não chega a 10% dos estudantes. O corpo universitário da UFFS luta desde o ano passado pela destituição do reitor, Marcelo Recktenvald.