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Opinião

Consultas online e representatividade: estorvos para a democracia

Precisamos resgatar o que há de fundamental na democracia para forjar alternativas à crise

Imagem: quadro “O quarto Estado”, de Giuseppe Pellizza da Volpedo
Por Flora Gomes, redação do Universidade à Esquerda
13 de julho, 2020 Atualizado: 12:29

A pandemia do novo coronavírus reorientou aspectos profundos das atividades cotidianas. Uma das questões fundamentais para a esquerda, sobretudo com o maior acirramento das contradições de classe, tem sido o de como vislumbrar uma posição democrática para as lutas sob as condições de afastamento social. Para aqueles comprometidos com a transformação radical da sociedade, resistir às ofensivas deste governo se torna ainda mais difícil nestas condições. Isso porque muitos dos tradicionais mecanismos para organizar este fim envolvem aglomeração social, como  reuniões amplas, assembleias, entre outros. Nesse campo, algumas formas de fazer política parecem estar caindo  no  equívoco de criar formas que afastam-se de sua  própria finalidade. 

A adaptação de grande parte da vida política às plataformas digitais, bem como a preocupação com aqueles que não têm acesso, tem gerado uma formulação, num primeiro momento, aparentemente em conformidade com os princípios democráticos. Se compreendermos que democracia é a possibilidade do exercício da vontade de cada um, a melhor forma de garantir processos democráticos em um momento de pandemia seria assegurar que todos pudessem particularmente expressar suas opiniões. Com isso em vista, a saída apresentada tem sido a de realização de formulários consultivos online, no qual entidades ou instituições consultam suas bases por meio de um questionário.