Na última terça-feira (30), o Ministério da Defesa anunciou a saída conjunta dos três comandantes das Forças Armadas, Edson Pujol (Exército), Ilques Barbosa (Marinha) e Antônio Carlos Moretti Bermudez (Aeronáutica).
O Ministério não revelou mais detalhes sobre a saída, contudo, ela se deu logo após a troca, por parte do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), de Fernando Azevedo e Silva por Walter Braga Netto — uma troca abrupta que causou indisposição entre os comandantes com a política de Bolsonaro.
Antes do anúncio, os comandantes se reuniram com o novo ministro, Braga Netto. Sabe-se que foi uma reunião tensa, mas não há maiores detalhes sendo discutidos publicamente sobre o teor da reunião.
A princípio, a saída dos três comandantes está relacionada com a indisposição por parte do trio, especialmente de Pujol, com a tentativa de interferência de Bolsonaro nas Forças Armadas.
É conhecido o discurso de exaltação do militarismo por Bolsonaro. Além da necessidade de reforçar a imagem de proximidade entre o presidente e as Forças Armadas, Bolsonaro tinha interesse em obter apoio político para ditar os termos do combate à pandemia — que atualmente encontra-se nas mãos dos governadores e prefeitos.
No início de março, Bolsonaro chegou a se referir ao Exército como sua posse ao dizer que as Forças Armadas não deveriam se mobilizar pela manutenção de medidas restritivas adotadas nos estados.
“Alguns querem que eu decrete lockdown. Não vou decretar. E pode ter certeza de uma coisa: o meu Exército não vai para a rua para obrigar o povo a ficar em casa. O meu Exército, que é o Exército de vocês. Fiquem tranquilos no tocante a isso daí. Agora, vamos ver até onde o Brasil aguenta esse estado de coisas. Eu quero paz, tranquilidade, democracia, respeito às instituições. Mas alguns estão se excedendo” — disse Bolsonaro a seus apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada.
A substituição do comando do Ministério da Defesa pode ter sido vista pelos comandantes como uma maneira de Bolsonaro intervir mais diretamente sobre as Forças Armadas e obter apoio político — o que já vinha sendo repudiado, principalmente por Pujol, que chegou a afirmar que os militares não querem “fazer política” ou “politizar os quartéis”.
A saída tem repercutido negativamente na mídia, tendo em vista que nunca houve uma substituição dos três comandantes ao mesmo tempo fora do período de mudança na presidência. A tensão gerada pelo evento também foi comparada à demissão do general Frota em 1977 por discordâncias com Geisel, que na época ocupava a presidência do país.
Entre a oposição parlamentar, um novo pedido de impeachment contra Bolsonaro foi protocolado na última quarta-feira (31), alegando cooptação dos quartéis e ameaça à democracia.