Jornal socialista e independente

Lalo Minto

É professor da Faculdade de Educação da Unicamp. Pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas Educação e Crítica Social (GEPECS). Autor de: A educação da miséria: particularidade capitalista e educação superior no Brasil e As Reformas do Ensino Superior no Brasil: o público e o privado em questão.

Renegociação das dívidas do FIES: o que está em jogo?

13 de janeiro, 2022 16:03

Está em curso a renegociação de dívidas do FIES que, segundo dados divulgados pela imprensa, atinge a cifra de R$ 123 bilhões. Não dá para dizer que o assunto é novo, pois há mais de uma década vem se falando dessa possibilidade. Curioso é o fato de que a proposição dessa ‘anistia’, formulada com a participação de ninguém menos que Paulo Guedes[1] (e, posteriormente, sancionada por Bolsonaro), também foi defendida pelo atual pré-candidato à presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Provavelmente, não terá sido o único ponto em que haverá convergência de posições entre esses dois grupos políticos neste 2022, haja vista o recente favorecimento concedido pelo atual governo ao Prouni.

Mundo afora, o tema do endividamento estudantil tem sido largamente divulgado e já deu origem até a documentários[2]. O caso mais dramático é o dos Estados Unidos, país onde as dívidas estudantis ocupam o segundo lugar entre as causas de endividamento familiar, perdendo apenas para as hipotecas[3]. Recorrentes também têm sido as notícias sobre casos de estudantes falidos, vidas inteiras comprometidas após fazerem uso de crédito estudantil; além, é claro, de situações bizarras como a de estudantes com insuficiência alimentar, dormindo em automóveis, universidades instalando chuveiros em estacionamentos e outras ‘alternativas’ para que esse público possa dar conta de financiar os estudos e sobreviver fora de suas cidades de origem.[4]

O padrão de financiamento pressuposto em programas como o FIES e Prouni vem sofrendo duras críticas há muito tempo no Brasil. Elas advêm, principalmente, dos setores que defendem a priorização ou a exclusividade dos investimentos públicos no ensino superior estatal, nunca convencidos da ladainha de que comprar vagas privadas ou adotar programas de financiamento seria mais ‘prático’ e ‘barato’. Noutras palavras: que o caráter público de uma política não se avalia apenas pelo “produto” que ela fornece, mas também pela forma desse oferecimento e suas qualidades.[5]

nesta coluna



Compartilhe a mídia independente