Jornal socialista e independente

Lalo Minto

É professor da Faculdade de Educação da Unicamp. Pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas Educação e Crítica Social (GEPECS). Autor de: A educação da miséria: particularidade capitalista e educação superior no Brasil e As Reformas do Ensino Superior no Brasil: o público e o privado em questão.

O negacionismo e a ilusão de uma pluralidade ideológica contra-hegemônica

25 de janeiro, 2021 Atualizado: 22:35

Os representantes da ideologia dominante jamais se cansam de exaltar seu “pluralismo”. Independentemente da intenção apologética bastante óbvia de tal reivindicação […], há nela um certo grau de verdade, visto que várias abordagens ideológicas contrastantes são compatíveis com os imperativos sociais gerais da ordem estabelecida. (István Mészáros, O poder da ideologia)

À medida que ideias e posturas ditas “negacionistas” ganharam espaço e divulgação nos últimos anos, esse termo foi sendo utilizado para uma ampla gama de problemas, diferenças de pensamento, ideologias, etc. O caráter grotesco de parte dessas ideias e posturas mobiliza e facilita a resistência contra elas, mas igualmente abre espaço para outras tendências de negação, que se apresentam como “menos graves”. Quando esse fenômeno é reduzido a um problema simples e de fácil explicação, dificilmente compreendemos o que está ocorrendo. Não há negacionismo no vazio, sem contexto determinado.

A hipótese aqui apresentada é a de que a hegemonia conservadora da última década passou a acomodar em seu solo variadas formas de expressão do chamado negacionismo (anticiência, anticrítica, etc.). Nesse contexto, quem se apresenta como crítico ao negacionismo parece, por oposição, naturalmente favorável ao conhecimento científico. Isso não surpreende em um país que naturalizou chamar de “centrão” os partidos mais conservadores e retrógrados do espectro político da direita.

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