Setores dos caminhoneiros têm se organizado para entrar em greve por tempo indeterminado a partir de segunda-feira (1º). As principais associações de caminhoneiros tem sinalizado para esta paralisação desde meados de outubro.
O preço do diesel acumula uma alta de 65,3% nas refinarias desde o começo do ano, chegando chegou a média de R$ 5/litro nas bombas. A gasolina subiu 73,4% no mesmo período.
“Estamos passando dificuldades. Esperamos que o governo Bolsonaro atenda as nossas reivindicações. O preço do diesel está um absurdo”, disse Vanderlei de Oliveira.
Presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga de Navegantes-SC (Sinditac)
Estima-se que o combustível responda a 39% das despesas do transporte rodoviário. Segundo levantamento da FGV (Fundação Getúlio Vargas), o motorista brasileiro acumula alta de 18,26% de inflação nos últimos 12 meses — maior índice ao grupo desde 2000.
Nesta segunda-feira (25), a Petrobras anunciou o reajuste do diesel em 9% e da galolina em 7%. O aumento atiçou ainda mais os motoristas, que esperavam alguma medida séria do governo.
“Ninguém está aguentando mais. A categoria resolveu parar e pedir para o presidente da República mudar a política de preços. E agora não é só a categoria não, é o povo brasileiro que está se conscientizando disso. Está forte o movimento”, afirmou José Roberto Stringasci.
Associação Nacional de Transporte no Brasil (ANTB)
As duas principais demandas da categoria são: redução do preço do diesel e revisão da política de preços adotada pela Petrobras — que vincula o preço do petróleo ao mercado internacional.
Essa política de paridade dos preços, planejada no governo Dilma, faz com que os valores de venda dos combustíveis sigam o mercado internacional e a variação do dólar.
“Não temos mais condições de trabalhar, infelizmente. Antes das últimas duas altas de combustíveis, sobrava em média 13% [do valor do frete] para a categoria. Agora, depois desses aumentos, a gente está pagando para trabalhar. Não sobra nada”, afirma Marconi França.
Liderança dos caminhoneiros em Recife (PE)
Além disso, os motoristas também pautam piso mínimo do frete, retorno da aposentadoria especial com 25 anos de contribuição, aprovação do Marco Regulatório de Transporte Rodoviário de Carga e melhorias dos Pontos de Parada e Descanso.
As centrais sindicais indicaram, nesta quinta-feira (28), apoio à paralisação dos caminhoneiros. Assim a nota a CUT, UGT, CTB, NCST, CSB, CSP-Conlutas e Intersindical.
“As Centrais Sindicais apoiam o movimento dos caminhoneiros e convocam todo o movimento sindical a expressar sua solidariedade a essa luta que é de todos os trabalhadores”, diz a nota.
Centrais sindicais
Como forma de enfraquecer a mobilização, o Ministério da Economia divulgou nesta sexta-feira (29) o congelamento por 90 dias do valor do ICMS cobrado na venda de combustíveis.
O governo tenta remediar a situação não alterando a política de preços da Petrobras mas com medidas paliativas como o “Auxílio Diesel”, com parcelas de R$ 400 para a categoria. Autônomos rejeitam e dizem que valor é irrisório.
“As lideranças não vão abrir mão da mudança na política de preços de combustíveis. Não tem mais como a gente trabalhar com o frete em real e o combustível sendo reajustado em dólar. É uma reivindicação que todos fechamos, em comum acordo, e não vamos abrir mão”, completa José Roberto Stringasci.
ANTB
Nesta quarta-feira (27), o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, tencionou contra os caminhoneiros autônomos estabelecendo um clima de confronto. “Greve não resolve nada”, afirmou o ministro desacreditando no sucesso da paralisação.
Uma reunião com o governo e representantes havia sido marcada para quinta-feira (28) mas foi cancelada em cima da hora.
No leilão do sistema rodoviário Presidente Dutra (Rio-São Paulo) nesta sexta-feira (29), o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, não quis responder a questionamentos sobre a possível paralisação.
Chorão, um dos líderes da greve de 2018, afirmar que há uma grande mobilização da categoria para o dia 1º.
A grande mídia ainda não sabe mensurar os riscos da greve. Mas há acordos em destacar que o movimento está ampliando nos últimos dias. Entidades patronais, como a Confederação Nacional do Transporte (CNT), tentam barrar a mobilizando e descreditar a greve.
Perante a crescente precarização, a categoria tem tentado, sem sucesso, retomar a mobilização nos patamares de 2018, ano em que os caminhoneiros pararam o Brasil por dez dias. Desde então, não houve qualquer avanço nas negociações entre o governo e a categoria; ao contrário, as despesas só aumentam com a política de preços da Petrobras.
Só em 2021 houve cinco inciativas de parar as estradas, todas sem exito.
“Os caminhoneiros estão mobilizados, muito mais que em 2018. O clima de tensão e a falta de diálogo entre a categoria e o governo prejudica o cenário”, afirmou Chorão
Presidente da Associação Brasileira dos Condutores de Veículos Automotores (Abrava)