Na última quarta-feira (02/06), Jair Bolsonaro realizou um pronunciamento nacional acerca da vacinação contra a Covid-19 no Brasil. Após quase 470 mil vidas perdidas, muitas em função de uma gestão genocida operada pelo executivo, o presidente declarou que irá garantir a vacinação a todos ainda este ano. A declaração é feita em meio às informações que têm sido reveladas na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, cujo objetivo é analisar as ações e omissões da gestão de Bolsonaro no enfrentamento da pandemia do coronavírus. Além disso, o tom do discurso muda dias após milhares irem às ruas contra o governo no 29M.
Em um pronunciamento que circulou em programas de rádios e TVs, Bolsonaro comemora a compra de 100 milhões de doses de vacina contra a Covid-19. Além disso, o presidente ressaltou que o Brasil é o 4˚ país que aplica vacinas no mundo e declarou que até o final do ano todos que desejarem serão imunizados. Esta postura chamou atenção porque não foi adotada pelo presidente ao longo destes quase 500 dias de pandemia. Após o pronunciamento, diversas cidades do país realizaram panelaços como forma de protesto.
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De acordo com o depoimento de Dimas Covas – diretor do Instituto Butantan – na CPI, o Brasil poderia ter sido o primeiro país a começar a vacinação se não fossem os entraves entre o Instituto e o Ministério da Saúde. Além disso, segundo o depoimento do gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, o governo ignorou seis ofertas, que totalizaram 70 milhões de doses, para a compra destas vacinas.
Além da recusa do governo em comprar os imunizantes, o executivo optou por investir no uso de hidroxicloroquina para tratar a Covid-19 mesmo após a confirmação da ineficácia do remédio para o vírus.
Outro ponto relevante que foi levado à público em depoimentos na CPI foi a decisão deliberada do governo em não intervir no colapso enfrentado pelo Amazonas nos primeiros meses do ano.
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Na última quarta-feira (02/06) a infectologista Luana Araújo revelou em seu depoimento, que após declinar na nomeação da Secretaria de Enfrentamento à Covid-19 devido à falta de autonomia no cargo, sofreu diversas ameaças.
Além da mudança do discurso em relação à vacinação, o presidente criticou as medidas de isolamento social e fez outras sinalizações à burguesia. Ressaltou o pagamento de auxílio emergencial em 2020 e os 190 bilhões liberados no auxílio a estados e municípios. Também ressaltou a permanência do Pronampe (Programa Nacional de apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte) neste ano. Seu discurso também ressaltou as privatizações sustentadas em seu governo (leilões de portos e aeroportos), a Medida Provisória (MP) da Liberdade Econômica, a autonomia do Banco Central, o novo marco do saneamento e a nova lei do gás.
Por fim, outro ponto importante na declaração de Bolsonaro foi a afirmação de que o governo “joga dentro das linhas da Constituição”.
O presidente e vice-presidente da CPI, sete senadores titulares e sete suplementos apresentaram uma nota pública após a declaração do presidente:
NOTA PÚBLICA
“A inflexão do Presidente da República celebrando vacinas contra a Covid-19 vem com um atraso fatal e doloroso. O Brasil esperava esse tom em 24 de março de 2020, quando inaugurou-se o negacionismo minimizando a doença, qualificando-a de ‘gripezinha’. Um atraso de 432 dias e a morte de quase 470 mil brasileiros, desumano e indefensável.
A fala deveria ser materializada na aceitação das vacinas do Butantan e da Pfizer no meio do ano passado, quando o governo deixou de comprar 130 milhões de doses, suficientes para metade da população brasileira. Optou-se por desqualificar vacinas, sabotar a ciência, estimular aglomerações, conspirar contra o isolamento e prescrever medicamentos ineficazes para a Covid-19.
A reação é consequência do trabalho desta CPI e da pressão da sociedade brasileira que ocupou as ruas contra o obscurantismo. Embora sinalize com recuo no negacionismo, esse reposicionamento vem tarde demais. A CPI volta a lamentar a perda de tantas vidas e dores que poderiam ter sido evitadas.”