A divulgação do vídeo que mostra um policial atirando covardemente em mais um homem negro nos Estados Unidos desencadeou uma onda de protestos anti-racistas no país. No último domingo (23), Jacob Blake foi atingido por oito tiros pelas costas na cidade de Kenosha, em Wisconsin. Há cerca de 3 meses, o assassinato de George Floyd pelas mãos da polícia estadunidense havia desencadeado gigantescas manifestações em diversos países. O movimento “Vidas Negras Importam” vão às ruas mais uma vez questionar o papel das polícias, das milícias supremacistas e do racismo que atravessa estruturalmente a organização da política nos Estados Unidos.
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Os policiais que atiraram em Blake estavam no local devido a um chamado para resolver um conflito doméstico entre duas vizinhas. No vídeo divulgado, o homem de 29 anos está cercado de policiais que o acompanham enquanto se dirige a seu veículo. Quando abre a porta, o policial dispara oito tiros pelas suas costas. O crime foi cometido na frente de sua esposa e seus três filhos. Segundo o advogado de Blake, este encontra-se em grave estado de saúde no hospital, com poucas chances de conseguir voltar a andar, pois seu corpo está paralisado da cintura para baixo.
Desde domingo, diversas cidades estão realizando protestos pedindo justiça por Blake e enfrentando a violência policial. Em Kenosha, centenas de pessoas cercaram o departamento de política e incendiaram carros policiais. Como resposta às mobilizações, o prefeito democrata John Antaramian impôs toque de recolher e colocou tropas de choque nas ruas.
Além de Kenosha, outras cidades dos Estados Unidos realizaram manifestações com cartazes “Vidas Negras importam” e exigindo o fim da polícia. Em Portland, no estado de Oregon, onde os protestos anti-racistas noturnos continuaram por quase três meses, ocorreu uma marcha cantando por justiça para Jacob Blake. Em Seattle, os manifestantes seguravam escudos para se proteger da polícia. Em Nova York uma grande marcha ocorreu em um dos pontos centrais da cidade.
Durante o protesto ocorrido na última terça-feira (25) em Kenosha um pequeno grupo de civis integrado exclusivamente por homens brancos portava armas e afirmavam estar ali para “proteger as propriedades privadas”. A violência deste grupo levou ao assassinato de dois manifestantes, além de ferir mais um. Os tiros foram realizados por um supremacista branco de 17 anos, que portava um fuzil AR-15. Em um registro de vídeo, o atirador aparece sendo perseguido por manifestantes após ter matado uma pessoa. Mesmo após cair no chão, ele segue atirando nas pessoas, matando outro homem e ferindo mais um. Em seguida, corre em direção à polícia, que não reagiu à fuga do atirador. Ontem (26) ele foi preso, acusado de homicídio.
As manifestações ocorrem durante o período da corrida presidencial nos EUA. Sobre o caso Jacob Blake, Joe Biden, candidato pelo Partido Democrata, disse apenas que espera uma “investigação justa e transparente”. Já Donald Trump, que tenta a reeleição pelo Partido Republicano, não se manifestou diretamente sobre o caso. Entretanto, o atual presidente possui um histórico de gestão política extremamente racista e contra os imigrantes que residem no país. Quando ocorreu o assassinato de George Floyd, Trump repreendeu fortemente as manifestações.
Por parte da esquerda dos Estados Unidos, a onda de protestos suscitam debates sobre o papel da polícia. Há setores que defendem a urgência de um Controle Comunitário das polícias, que funcionaria como “um conselho civil democraticamente eleito que daria aos residentes autoridade final sobre as políticas e orçamentos policiais, ações disciplinares e recursos legais”. Outros setores afirmam a necessidade urgente de abolir as polícias sob alegação de que a presença de maior controle civil sobre esse setor não freiaria a natureza violenta e racista desta instituição.