Por Nina Matos, redação do Universidade à Esquerda
30 de maio, 2022 20:05
Goteiras, infiltrações, mofo, vazamentos de água pela rede elétrica, estrutura deteriorada e sem manutenção há anos. Essa é a realidade de grande parte dos prédios em que estudantes, técnicos e professores da UFSC desenvolvem suas atividades diárias de trabalho, pesquisa, ensino e extensão.
Milhares de pessoas circulam pela universidade todos os dias. Não apenas permanecem nas salas durante as aulas, como também ocupam as bibliotecas setoriais, salas de Centros Acadêmicos, dentre outros espaços de estudo e de lazer que a universidade oferece.
Esses espaços estavam fechados desde março de 2020, quando muitas das atividades da UFSC foram suspensas devido à pandemia. Contudo, conforme alguns setores foram retornando, a falta de reformas essenciais para a estrutura dos prédios tornou-se evidente. Mobilizados pela greve, trabalhadores da UFSC passaram a denunciar a insalubridade na qual encontravam-se os locais de trabalho e as condições precárias de segurança.
Tudo isso agudizou-se com o início das aulas em 18 de abril. Os muitos problemas estruturais são sentidos por cada um que passe ao menos um período na universidade.
No Centro de Ciências Físicas e Matemáticas (CFM), por exemplo, os blocos modulados — apelidado de “labirinto” — já deveriam ter sido interditados, sendo remanejados trabalhadores, turmas e também a Biblioteca Setorial. Entretanto, toda a comunidade continua sendo alocada no espaço extremamente precário com risco de desabamento.
Além disso, o prédio onde se encontra atualmente o Departamento de Física teve a principal passagem destruída. Nos dias de chuva, a passagem — improvisada com madeira — fica alagada. Já na segunda semana de aulas, o Bloco A do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH) — ao lado do bloco de salas — foi tomado pelo fogo. A situação crítica levou entidades estudantis a se manifestarem pela precariedade da situação.
Em nota, o Centro Acadêmico Livre de Psicologia (CALPsi) escreveu: “registramos nossa profunda indignação e lamentamos que um fato desse tenha ocorrido na universidade, o que consolida o que viemos discutindo e percebendo ao longo dos últimos meses, especialmente no retorno presencial: a gigantesca precariedade e situação de abandono que se encontram os centros de ensino e pesquisa da UFSC.”
O Centro Acadêmico Livre de Ciências Sociais (CALCS) também manifestou-se através de intervenções nos principais prédios do centro. “Como estudar sem café? Onde está a licitação” e “Queremos banheiros (que não peguem fogo). É pedir demais?” foram algumas das provocações deixadas nas paredes. Os estudantes das Ciências Sociais, ainda, exigem que a direção de centro reúna-se com toda a comunidade do CFH para discutir a situação do centro.
Além da falta de banheiros e bebedouros — que já era sentida antes da pandemia — a falta das lanchonetes alterou completamente a dinâmica da comunidade do CFH. Para se alimentar no intervalo, a lanchonete mais próxima é a do Centro de Comunicação e Expressão (CCE) — que além de suprir a falta da lanchonete do CFH, cobre a demora nas licitações das lanchonetes do Centro de Ciências da Educação (CED) e do Espaço Físico Integrado (EFI).
Essas alterações fizeram com que muitos professores optassem por prolongar os intervalos por meia hora, a fim de garantir que os estudantes pudessem suprir suas necessidades mais básicas.
No Centro de Desportos (CDS), a má condição dos ginásios chegou a impedir que algumas aulas pudessem acontecer. Além das goteiras, o forro de um dos ginásios está caindo. Há também problemas com encanamentos e com os banheiros.
O Centro Acadêmico Livre de Educação Física (CAEF) promoveu uma reunião ampliada, que contou com a presença de cerca de cinquenta pessoas, a fim de reunir as demandas para a manutenção e ampliação da estrutura do CDS. Essas demandas foram sistematizadas em um ofício a ser entregue para a direção do centro.
De modo geral, a administração central alega que o baixo orçamento que a UFSC recebe impede que sejam feitos reparos, manutenções e melhorias que seriam essenciais para o funcionamento adequado e seguro das edificações.
O orçamento parco é um fato indubitável, mas é uma decisão da reitoria quais serão suas prioridades num determinado momento. Hoje, a reitoria decide que não é prioridade a segurança das milhares de pessoas que frequentam prédios extremamente deteriorados — como o CFM, CFH, CED, CCE, entre muitos outros. Estudantes, professores e técnicos — a comunidade acadêmica como um todo — devem se questionar: nós continuaremos a estudar e trabalhar sob essas condições tão degradantes?