Desde a sexta-feira passada (06/11) até o momento, estima-se que mais de 80 atos tenham sido realizados pelos moradores da região do Amapá, majoritariamente na capital e no município de Santana.
Com a incerteza do retorno integral do serviço de energia elétrica, a falta de cumprimento dos horários do rodízio, os moradores tem realizado os protestos para denunciar o descaso das autoridades públicas com a alarmante condição precária em que vivem desde a terça-feira passada (03/11). Após a explosão seguida de incêndio que comprometeu os três transformadores na mais importante subestação do estado, que fica na Zona Norte de Macapá, o fornecimento de energia elétrica e água foi interrompido em 13 das 16 cidades do estado, deixando quase 90% do Amapá no escuro.
De acordo com a matéria publicada hoje pelo Valor Econômico, o risco de apagão era do conhecimento de principais órgãos do setor elétrico. Desde a concepção do projeto eram indicadas a necessidade da instalação de quatro grandes transformadores na subestação, pois caso contrário, eles estariam operando acima do limite da capacidade – como acontece há cerca de dois anos. O serviço já apresentava péssima qualidade, com falta de energia constante nas casas e alto custo para os moradores da região.
Após o apagão, os moradores ficaram sem energia, água, entre outros inúmeros serviços e produtos básicos, tais como medicamentos, telefonia e alimentos. Diversos estabelecimentos continuam fechados e enormes filas foram formadas para sacar dinheiro, sem que muitos tenham conseguido.
Com as altas temperaturas do calor amazônico a sensação descrita por Dulcivânia em entrevista para a Piauí é a de “suplício, corpo e cabelo melecados, sensação de colapso mental em adultos, crianças gritando”, de uma “panela de pressão que explodiu.”
Condições sanitárias e aumento de casos por Covid-19
Sem a garantia da água própria para o consumo, alguns moradores utilizam água do mar e do rio para beber e tomar banho. O governo estadual prevê surto de casos de doenças diarreicas agudas por causa da qualidade da água que está sendo consumida e das condições dos alimentos consumidos, muitos já estragados. Com a previsão de novas doenças, há uma projeção para os próximos dias de um aumento no número de casos de contaminações por Covid-19.
O aumento do número de infectados que já era significativo no estado deve piorar com a falta de energia nos próximos 15 dias. As autoridades sanitárias locais não estão conseguindo manter atualizados os dados de casos de covid-19. Hoje foi inaugurado um novo bloco com 30 leitos para pacientes com covid-19 no Hospital Universitário de Macapá, devido a lotação máxima de pacientes com Covid-19 no hospital.
Inundações e morte de jovem de 24 anos
A situação para os moradores dos bairros periféricos continua grave e distante de ser normalizada. Muitos alegam depender somente das redes de solidariedade via igrejas, com as doações que estão chegando de fora. No município de Santana, além do apagão, diversas famílias tiveram que enfrentar uma inundação que afetou casas e comércios.
Segundo relatos de moradores da rua São João Apóstolo, no bairro Paraíso, visitado pela agência Amazônia Real no sábado (07/11), as águas da chuva foram represadas por obras realizadas na rodovia Duca Serra (AP-020) e pela tubulação de um esgoto do condomínio Alphaville, que transbordou e provocou uma enxurrada de lama, danificando tudo que encontrou pela frente.
Com a explosão dos geradores a Polícia Civil do Amapá abriu inquérito para apurar a morte de um jovem de 24 anos, que foi encontrado sem vida em uma empresa de informática. A investigação sobre as causas de morte apontam para o possível inalação de monóxido de carbono emitido pelo gerador. O caso aconteceu no município de Porto Grande, que fica a menos de 100 km da capital Macapá, entre a noite de quinta (05/11) e madrugada sexta-feira (06/11).
Dias marcados por protestos
Todos os dias ocorrem inúmeros protestos reivindicando melhorias no fornecimento de energia no Amapá, tal como as manifestações que aconteceram na praça da Bandeira, no centro de Macapá, e também em outras localidades de Macapá e Santana, cidade vizinha a 15 km da capital.
Em algumas comunidades no quilombo do Curiau, foram feitas reclamações sobre as ações violentas da Polícia Militar, que chegou a utilizar balas de borracha para conter os protestos e manifestações. Na última sexta-feira (07/11), um garoto de 13 anos foi atingido com um tiro de borracha no olho, disparado pela Polícia Militar do Amapá durante protesto contra o apagão. Os atos também tiveram repressão do Bope (Batalhão de Operações Especiais) e da Rotam (Ronda Ostensiva Tática Motorizada).
Hoje, a Frente pelo Direito à Cidade compartilhou um chamado para protesto às 17h, no Palácio do Setentrião.