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Opinião

A metamorfose da excepcionalidade por Carolina Picchetti Nascimento

Ensino remoto emergencial e esvaziamento da universidade
Ilustração: Ensino Remoto. UàE. 24/11/2020
24 de novembro, 2020 Atualizado: 17:17

por Carolina Picchetti Nascimento, professora do Centro de Educação da Universidade Federal de Santa Catarina, para o UàE

A palavra tentou. Esforçou-se. Buscou todos os meios para sustentar a condição de excepcionalidade. Mas a ação era mais forte. Bastou um gesto, certeiro, para decapitar a excepcionalidade pela raiz. Justo a sua raiz! Lá se foi a exceção, tombada no chão. Restou o sufixo, esse ser amorfo, desprovido de sentido e sem autonomia para nada. A ação, compadeceu-se de seu próprio gesto e tomando o sufixo nas mãos apressou-se em dar-lhe novo corpo. Um justo corpo de lei. E disse: chamar-te-á, de agora em diante, legalidade.

A materialização do “Ensino Remoto Emergencial” nas Universidades públicas ao longo de 2020 apareceu,e segue aparecendo,hegemonicamente, como uma ação de excepcionalidade diante da pandemia. Contudo, entre a aparência e a essência em relação aos significados e impactos concretos do Ensino Remoto Emergencial na formação discente, nas condições de trabalho docente e na própria existência das Universidades públicas, segue existindo a necessidade de analisarmos e explicarmos as múltiplas mediações que as conectam.

Poderia ser pertinente começarmos com uma singela pergunta: se o Ensino Remoto é “emergencial”, qual é a emergência que estamos enfrentando? Parece que a resposta mais otimista é que a emergência está em “socorrer” o semestre ou o calendário acadêmico.  Contudo, se essa é a nossa resposta otimista é porque existe uma resposta de fato “pior” que a já inaceitável subordinação da formação à certificação. Parece que a verdadeira emergência do Ensino Remoto está em gestar as bases, objetivas e subjetivas, para uma implementação sistemática e permanente da lógica remota de organização da atividade pedagógica nas Universidades públicas.