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A indignação em níveis internacionais: as manifestações nas ruas

Protestos antirracistas ganham força ao redor do mundo neste fim de semana

Por Martim Campos, redação do Universidade à Esquerda
09 de junho, 2020 Atualizado: 13:21

Há mais de uma semana, os protestos e manifestações antirracistas e antifacistas ganharam ainda mais força e ampliação ao redor do mundo neste fim de semana. As ruas de inúmeras cidades testemunharam as vozes de milhares de pessoas, que sob o movimento “Black Lives Matter” (Vidas negras importam, em português) demonstram sua insatisfação contra as atuais condições de vida. 

Neste domingo (07), milhares de pessoas voltaram às ruas em todo o mundo expressar sua indignação, prestar solidariedade e pedir justiça pela morte de Floyd e de tantos outros de seus cidadãos mortos brutalmente pelas mãos da polícia (como foi o caso de Collins Khosa, na África, e Giovanni López, jovem de 30 anos morto no início de maio sob custódia policial perto de sua cidade natal Guadalajara, lembrado nos protestos desta semana no México). 

Apesar da ameaça do coronavírus e da possível retaliação policial, o esgotamento com as atitudes de tais descasos sistemáticos com as vidas dos trabalhadores, da população negra, dos refugiados, que acabam fazendo parte das vidas mais atingidas devido suas condições sociais e econômicas, colocam o tom de tais manifestações como imprescindíveis. Tais ameaças já são experienciadas cotidianamente por grande parte da população, que não teve garantia de seu isolamento social nem de sua segurança, como é o caso do Brasil e Reino Unido por exemplo, onde o número de mortes quase triplicou, entre a população negra e outras minorias. 

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Os atos foram marcados por denúncias de crimes cometidos pelas autoridades policiais , com gritos que ecoaram ao redor do mundo através de seus cartazes estampados por  “Não há paz sem justiça”,“Vocês, os racistas, são os terroristas”, e silêncios emblemáticos de 9 minutos e músicas que preencheram diversas praças, acompanhados dos punhos erguidos e vestimentas pretas de diversos manifestantes, em sinal de respeito e homenagem as vidas que se foram. 

Os protestos que irrompem diariamente nos Estados Unidos tomaram grande proporção nessa semana, com cerca de mais de 140 cidades realizando atos, tais como ocorreram nas cidades de Los Angeles, Nova York, Washington DC, Chicago, Atlanta, Oakland, Seattle e Denver. 

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Em outras partes do mundo, diversos países da Europa também  realizaram manifestações e marchas de solidariedade neste fim de semana em Londres, Berlim, Auckland, França, Copenhague, Itália e Toronto. Nas manifestações, as dificuldade de manter a distância social fizeram-se presentes, bem como as intimidações policiais. As embaixadas dos EUA foram o destino final dos percursos das marchas de protestos em outras partes da Europa, com mais de 10.000 pessoas se reunindo na capital dinamarquesa Copenhague, centenas em Budapeste e milhares em Madri, onde tropas de choque acompanharam de perto o ato.

O retrato das manifestações neste domingo em distintas cidades e países

Em Londres, assim como em outras cidades, a maioria dos manifestantes manteve uma atitude pacífica. Cerca de 15.000 pessoas se reuniram no Hyde Park, em Whitehall (a avenida que abriga a maioria dos prédios do Governo) e em frente à nova embaixada dos Estados Unidos em Battersea, na margem sul do rio Tâmisa. Em referência ao histórico colonial e o racismo no país, os manifestantes clamaram logo no início de seu ato os gritos “o Reino Unido não é inocente” e as palavras “was a racist” (foi um racista, em português) foram pixadas na estátua de Churchill. 

Em Bristol, Inglaterra, que contou com a participação de aproximadamente 10 mil pessoas, teve como destaque os manifestantes que usaram cordas para derrubar a estátua de Colston feita de bronze e erigida em 1895. Edward Colston foi um comerciante de escravos do século XVII que fazia parte da Royal African Company, proprietária do monopólio de ouro, marfim e escravos. Sua estátua foi jogada em um rio que corta a cidade. Mais recentemente, circulou uma petição que reuniu mais de 11 mil assinaturas exigindo a remoção da estátua de Colston. Apesar das controvérsias, autoridades locais não atenderam o pedido.

Assim como em Bristol e Londres, na cidade de Bruxelas, Bélgica, manifestantes também se aglomeraram frente outro símbolo de vinculado com a morte de milhões de africanos no século XIX, o monarca Leopoldo 2º, que reinou na Bélgica de 1865 a 1909. Uma petição para a retirada desta estátua foi realizada e conseguiu mais de 50.000 assinaturas em 3 dias. Durante a manifestação que seguia pacífica, alguns manifestantes atearam fogo no pedestal da estátua de Leopoldo e em resposta, a polícia arremessou bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta. No mesmo protesto, lojas foram saqueadas e a polícia se concentrou com tropa de choque, cavalaria e helicóptero. Cerca de 150 pessoas foram presas, segundo a prefeitura da cidade. 

Na Espanha, os principais protestos ocorreram nas cidades de Madri e Barcelona. Em Madri, os manifestantes deram início ao protesto na praça Nelson Mandela no bairro de Lavapiés e seguiram até a embaixada estadunidense, trazendo também em seus protestos a denúncia da morte de imigrantes nas prisões e ruas pelas mãos das forças de repressão do Estado. Em Barcelona, foram lidos os nomes na praça Sant Jaume de imigrantes que foram assassinados pela polícia e pela Guarda Civil. Outras cidades como como Zaragoza, Bilbao, Donosti, Lleida também fizeram parte dos protestos. 

Manifestações também foram registradas na África do Sul, onde ativistas em Cape Town se reuniram na porta do Parlamento. 


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