Opinião
A importância do 07 de setembro na eleição presidencial e o futuro das lutas
Este 07 de setembro de 2022 tem uma importância na conjuntura de nosso país, própria do momento histórico que atravessamos. Jair Bolsonaro, atual presidente do país e candidato à reeleição vem, mais que diariamente, ameaçando e anunciando a disposição de realizar um golpe. Ainda que não tenha se efetivado um apoio dos setores burgueses, os ataques do presidente têm efeitos nas massas que o apoiam e vão consolidando no uma base social que daria apoio e sustentação ao suposto golpe.
E também mantém uma base social atiçada e disposta a defendê-lo – ele, sua família e seus apoiadores do alto escalão do governo; na ocasião de investigações e punições sobre os diversos indícios e comprovações de corrupção. É possível que essa seja a principal aposta de Bolsonaro, uma vez que nas principais pesquisas eleitorais, o número de intenção de votos não cresce com a aproximação da data das eleições marcadas para 02 e 30 de outubro.
Ainda assim, em termos de temporalidade na política, são muitos dias e semanas e não se pode descartar uma alteração no quadro. Os ataques mais severos de Bolsonaro e do bolsonarismo estão por vir com o afunilamento do período eleitoral e, o teor de tais ataques, depende e muito da principal candidatura na cena política que tem se demonstrado capaz de vencê-lo, a candidatura Lula e Alckmin.
Porém, vencer Bolsonaro na eleição passa longe de significar derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo. A isso a candidatura de Lula e Alckmin não está a altura, Lula carrega um simbolismo de volta a um passado fantasioso para amplos setores da esquerda. Fantasioso, pois o período do PT de Lula e Dilma na presidência, significou avanços neoliberais impressionantes para quem se apresentava, naquele período como a principal oposição ao PSDB de Fernando Henrique Cardoso e do próprio Geraldo Alckmin.
E Alckmin é o aceno à burguesia paulista de que Lula é o candidato destinado à eles, significa o esgotamento do PSDB na disputa presidencial e também a expressão de um trunfo petista. Trunfo que consolidou nos amplos setores da esquerda a fantasia de um retorno a um passado mágico que não existiu e que, às custas da desorganização da classe trabalhadora, se apresenta para a eleição na cabeça de chapa a aliança descarada com os principais ditos inimigos de outrora.
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Sobre os governos petistas
É fácil relembrar esses avanços neoliberais apenas citando alguns fatos. O PT, nas universidades, fez um severo ataque ao sindicato dos docentes, o ANDES-SN, ao criar o PROIFES desde dentro do Ministério da Economia, enfraquecendo a luta e organização dos professores naquele período. Herança que sentimos hoje na desorganização da nova geração de docentes que entrou no serviço público nas IES federais. Tanto é que, passou-se por um governo inteiro de Bolsonaro, com ataques atrás de ataques, e a categoria não conseguiu articular uma greve nacional. A última, a maior delas, inclusive, ocorreu em 2015, há sete longos anos atrás..
Os cortes na Educação que são ampla e corretamente criticados, iniciou-se em 2014, desde então as universidades amargam quase uma década de sucessivos achatamento orçamentário e a deterioração dos espaços formativos é evidente. Essa destruição é comum a todos governos desde então, não sendo políticas exclusivas dos governos Temer e Bolsonaro. O PT fez sua participação no que as universidades têm se transformado.
E não só participou, como elegeu a educação privada presencial e a distância como espaço de expansão e valorização de capitais. Os recursos cortados ‘daqui’, foram vergonhosamente investidos ‘ali’. A educação privada e as matrículas em educação a distância nunca cresceram tanto como no governo petista e, com ele, a política de financiamento do FIES se descortinou como política de endividamento da juventude brasileira que beneficia o capital financeiro.
Impossível não lembrar, também, da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERERH). A qual em um só movimento atacou a autonomia das universidades, a carreira dos servidores públicos, a formação nos cursos da área de saúde que desenvolve trabalhos nos HUs e o Serviço Único de Saúde.
Todos esses são exemplos de políticas que foram implementadas naquele período. Hoje, tira-se de foco essas contradições e vangloriam-se dos frutos dos governos petistas, como o REUNI, que perto do crescimento das IES privadas teve um significado mínimo. Porém, em mais de uma década de governo de continuidade, não se avançou um passo na defesa da expansão massiva de vagas em busca da universalização da educação superior. Afinal, o que se apresenta, em termos de projeto político, aos dezenas de milhares de jovens brasileiros que ficam de fora dessas políticas de inclusão?
As eleições de 2022
É terrível o cenário dessas eleições. A perpetuação de Bolsonaro na presidência seria catastrófica. O baixo nível das declarações públicas, como a assistida no discurso presidencial na manhã de 07 de setembro comparando a primeira dama às anteriores, falando contra o aborto, gritando que é “imbroxavel”, é esdrúxula e de baixo nível. E faz parte de seu método de dirigir-se às massas, construindo uma identificação com valores vulgares e reacionários – os quais Bolsonaro têm em sua agenda para rebaixar ainda mais as massas.
O fim do mandato de Bolsonaro significa para ele colocar um alvo em sua testa nas investigações ao perder o foro privilegiado e o risco de ser severamente punido. Não à toa os testes sobre a possibilidade de golpe, é preferível se manter de qualquer forma do que o risco de perder tudo fora da presidência.
A inviabilidade, por ora, de se realizar o golpe junto e apoiado por grandes setores burgueses, em nada impede e suas bases de tentar qualquer tipo de ato nessa direção. Bolsonaro, usa o 07 de setembro para provocar suspiros golpistas e preparar seus apoiadores para algum tipo combate do “bem” versus o “mal”, como cita constantemente em seus discursos.
O retorno de Lula não significaria a derrota do projeto bolsonarista e, talvez, manterá o estado de coisas como está até a próxima eleição. E esse retorno também não significa um avanço das lutas à esquerda ou o início fecundo da articulação de um projeto próprio da classe.
PT e Lula são forças opostas a isso, não estão interessados em que isso aconteça e trabalham contra, essa foi a marca dos governos petistas, frustrando as esperanças depositadas de diversos setores. Não há nada na conjuntura que aponte uma tendência diferente para nosso período atual.
Nesse contexto, com esse histórico, a questão que mais ecoa é como e por que setores tão amplos apostam no repeteco lulista para a história do país e não em outro projeto que não o de poder petista.
A importância de ir às ruas neste 07 de setembros
A tese petista sobre os atos é a própria assinatura de desarticular as forças de esquerda, ou seja, não construir as manifestações do Grito dos Excluídos para não provocar confrontos com setores bolsonaristas. Trabalham contra a possibilidade de, diante da polarização, a esquerda possa medir forças com os atos pró-Bolsonaro.
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A importância deste 07 de setembro, este ano, é exatamente a de construir uma saída pelas lutas e organização. Não se juntar ao Grito dos Excluídos é um acovardamento dos setores que apoiam o PT nessas eleições. Daixa um ensinamento de evitar o tempo todo o conflito, mesmo que signifique abrir mão de uma data histórica que faz uma contraposição ao patriotismo de direita e acrítico, comemorado no aniversário da Independência. Grito dos excluídos é uma referência direta ao Grito de Independência.
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É certo que a esquerda socialista hoje está aquém de ser um peso decisivo para qualquer política no país. E isso precisa ser alterado, não é possível ou razoável, pra dizer o mínimo, que o horizonte que a esquerda construa tenha a mesma data de validade que mandatos políticos.
A reconexão com os problemas centrais do povo e do país é urgente e pode fecundar os passos na direção de outros marcadores para as lutas organizadas. Mirando para um projeto verdadeiramente voltado à classe.
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