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Opinião

A CPI da Covid faz Bolsonaro recuar?

Pelas características e intenções de Bolsonaro, ele não parece estar sob controle da comissão

Imagem: Gravação do pronunciamento do Presidente da República, Jair Bolsonaro para o Dia do Trabalhador. Foto: Alan Santos/PR
Por Flora Gomes, redação do Universidade à Esquerda
18 de junho, 2021 Atualizado: 11:40

Ainda que as eleições presidenciais de 2022 pareçam distantes, o período que estamos a atravessar é determinante para as condições da corrida pelo executivo. Diversos fatores influenciam significativamente a correlação de forças nas entranhas do Estado. Para começar, estamos há 15 meses experienciando os efeitos deletérios da pandemia e a cada dia que passa fica mais evidente a responsabilidade do atual governo pela quantidade de vidas ceifadas. Somado a isso, há especificidades da gestão bolsonarista, com suas constantes críticas à institucionalidade, que podem se expressar com maior radicalidade frente à possibilidade de perda nas eleições. Com a instauração da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, passa-se a impressão de que Bolsonaro está sob controle do legislativo e do judiciário. Contudo, por suas próprias características e intenções, essa tese parece não ter fundamento. 

Quando as milhares de vidas perdidas também traduziram duras perdas econômicas para os capitais, houve uma pressão de setores da grande e média burguesia para que o controle da pandemia no país avançasse. Pouco tempo depois, uma CPI é instaurada para impressionar os capitais, e, por consequência, torna evidente os absurdos experienciados pela classe trabalhadora no Brasil. Os fatos apurados pela comissão têm gerado indignação do povo, que foi às ruas durante o #29M e se empenha na organização para os atos no dia 19 de junho (#19J). Este cenário ocorre em um momento bastante sensível para a burguesia, pois é quando estão sendo definidas as apostas dos capitais para a gestão do executivo. Meses antes do início da corrida eleitoral são feitos os acordos, testam-se teses e quadros para ocupar os cargos de gerenciamento do executivo.

A possibilidade da eleição do Lula em 2022 tem trazido movimentações importantes. Do lado da esquerda, a aposta no petismo para salvar o país em 2022 tem cindindo aqueles que apostaram na unidade para ação – já que, parte dos que abraçam essa tese sequer visam a massificação dos atos #ForaBolsonaro. Figuras como o Lula não tem nem mesmo apoiado o impeachment, visando construir uma saída conciliatória nas eleições presidenciais. Do lado do capital, na medida em que as pesquisas apontam para uma possível vitória eleitoral de Lula, Bolsonaro tende a ficar cada vez menos sob controle da institucionalidade. Com isso, as questões que vêm à tona são se Bolsonaro dará ou não um golpe e, em caso afirmativo, se haverá apoio de setores significativos da burguesia para este projeto. Com isto em curso, não parece estar no horizonte do presidente ser submetido ao controle da comissão parlamentar.