O vídeo, com aproximadamente duas horas de duração, conta com a participação de 25 autoridades dentre ministros, presidentes do BNDES (Gustavo Montezano), Caixa (Pedro Duarte Guimarães), Banco Central (Roberto Campos Neto) e Banco do Brasil (Rubem Novaes), além do presidente e seu vice. As discussões foram sobre diversos temas, norteadas pela crise sanitária provocada pelo Covid-19 e como a política do governo poderia continuar sendo tocada apesar da pandemia.
Todavia, destacam-se as falas de Bolsonaro a respeito da desintegração dos ministérios e de uma falta de comprometimento com a causa maior de tirar o petismo e a corrupção, onde sugere que os ministros passem a se preocupar com a “questão política”, citando portanto, a PF, e como sua família tem sido perseguida pela mídia com o único objetivo de derrubar seu governo. Nas próprias palavras do presidente:
Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira.
Weintraub também ressaltou as preocupações de Bolsonaro, dizendo inclusive que “botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF”.
Em março, Bolsonaro contava com 23 pedidos de impeachment, sendo o primeiro deles de março do ano passado. As acusações giram em torno dos disparos de fake news e ataques a imprensa e a democracia. A crise econômica que já se estendia e era empurrada sua conta à população, somada ao coronavírus, têm cada vez mais enfraquecido o poder de Bolsonaro de se articular com a burguesia e garantir que ela continue acumulando cada vez mais. Nas mídias, os índices de desemprego colocam em xeque os discursos de Paulo Guedes e a dificuldade de Weintraub de avançar com a agenda ideológica conforme era esperado pela base do governo.
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Cronologia dos fatos após a divulgação do vídeo
No mesmo dia da divulgação do vídeo, o STF encaminhou à Procuradoria Geral da República (PGR) a investigação acerca das acusações de interferência na PF, em que constava um pedido de apreensão do celular de Bolsonaro realizado por parlamentares. Com isto, o general Augusto Heleno (ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional) divulgou uma carta pública em claro tom de ameaça afirmando que caso o pedido de apreensão fosse atendido, poderia haver consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional.
No domingo (24), um grupo de 90 oficiais da reserva se manifestaram em uma carta defendendo as declarações de Heleno, afirmando que as ações do STF estão trazendo instabilidade ao país que pode acabar tendo como desfecho uma Guerra Civil. O ministro da defesa, Fernando Azevedo e Silva, também endossou as declarações do colega.
Na segunda, Bolsonaro realizou uma visita surpresa ao procurador geral da república Augusto Aras e os jornais acabam de anunciar que o mesmo não pretende se posicionar a favor da apreensão do celular de Bolsonaro.
Há ainda uma nova frente de investigação que pode ser aberta contra Bolsonaro. O ministro Luís Roberto Barroso, que acaba de assumir o Tribunal Superior Eleitoral, declarou em coletiva na tarde de hoje, que pretende pautar ações que pedem a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão.
Por ora, parece que o vídeo também poderá trazer consequências para Abraham Weintraub, que já estava balançando no ministério da educação, derrotado em todas as empreitadas que decidiu emplacar, entre as mais recentes o cronograma de realização do ENEM. O ministro foi convocado pelo Senado a prestar esclarecimento sobre sua declaração de que os ministros do STF deveriam ser presos.
Cada dia se torna mais difícil esconder todas as contradições em que este governo se apoia, em especial agora com a saída de Moro, que tende a rachar os setores e colocar uma disputa cada vez mais feroz sobre a população. Basta ver como a mídia tradicional tem exposto um Moro constrangido na reunião, que não teve espaço para falar, que foi coagido.
Além disso, há uma série de frentes de investigação que já estão em aberto e ainda podem se abrir contra Bolsonaro, o cerco está bastante apertado.
Contudo, ainda é possível ver diferentes setores aliados ao bolsonarismo, principalmente nas forças policiais e no controle que tem assumido do exército. São estes os primeiros que têm levantado o tom frente ao avanço de investigações no STF. Esta era a reivindicação de Bolsonaro na reunião divulgada, que seus aliados fizessem coro para defendê-lo.
Imagem: Marcos Correa / Agência O Globo.