Notícia
Revolta no Chile chega ao seu quarto dia
Na última semana iniciaram-se protestos estudantis na Capital do Chile, Santiago, em função do anúncio de aumento de 30 pesos no preço do bilhete do metrô, que pertence a uma empresa privada, com participação do Estado Chileno. Foram organizados catracassos convocados pelos secundaristas em diversas estações, que sofreram com intensa repressão policial, como o uso de gás lacrimogênio dentro das próprias estações e mais de 100 presos apenas na quinta-feira, (18). Em pouco tempo, as manifestações se massificaram e tomaram alcance nacional.
Na sexta-feira, frente à militarização e fechamento das estações de metrô em horários de pico, começaram a estourar inúmeras manifestações espontâneas. Se realizaram desde atos de rua, até incêndios em ônibus, em uma filial do Banco do Chile e no prédio da companhia de energia elétrica, a Enel, que é privada e tem sido questionada pelas altas tarifas de eletricidade, com anúncio de aumento recente de 15% (esta mesma companhia, também tem atuação em diversas regiões do Brasil).
Na noite dessa mesma sexta, o presidente Sebastián Piñera decretou estado de emergência nas províncias de Santiago e Chacabuco, e nos municípios de Puente Alto e San Bernardo, na região metropolitana, implicando em restrições às liberdades de manifestação e reunião durante 15 dias e passou o controle da cidade para um General, que colocou as forças armadas nas ruas da cidade. Para a chefia da Defesa Nacional, foi nomeado Javier Iturriaga del Campo, filho do militar Dante Iturriaga Marchees, que entregava detidos ao centro de tortura e desaparecimento Colonia Dignidad, durante a ditadura de Pinochet.
Tais medidas fizeram com que os protestos se ampliassem ainda mais no sábado (19), tomando proporção de norte a sul do país, com panelaços e enfrentamentos às forças armadas, assim como saques e incêndios em supermercados e farmácias. Há relatos de cenas onde os alimentos saqueados não são tomados de forma individualistas, mas sim repartidos entre os trabalhadores presentes nas barricadas. Com isto, foi estabelecido toque de recolher na noite de sábado, a partir das 22h, que foi prontamente desobedecido pela população, seguindo em manifestação nas ruas.
Desde então, o estado de emergência vêm se expandido para outras cidades, têm-se intensificado os relatos e vídeos de violência policial desesperada, com atropelamentos, tiros a queima roupa, militares vestidos de civis para atirar em manifestantes e o Minitério Público já informou a detenção de mais de 1400 pessoas. Isto não tem feito com que as forças das manifestações diminuam, pelo contrário. No Domingo, o sindicato nº1 de mineiros de Escondida, a maior mineradora privada do país, declarou apoio às manifestações e fez um chamado para uma paralisação de mineiros e mineiras em todo o país, junto a outros setores produtivos. A União portuária do Chile convocou paralisação nacional do portuários para hoje (21), e se espera que até às 10h da manhã, 20 portos estejam parados em todo o país. Além disso, novos protestos estudantis foram convocados para a data de hoje.
O Chile passa por um histórico brutal de retiradas de direitos de trabalhadores, é considerado um laboratório de experiências neoliberais, como a destruição e capitalização da previdência, e as manifestações também carregam consigo todo esse acúmulo com relação às degradações que vêm sendo impostas para as condições de vida dos trabalhadores neste país. Mesmo com anúncio de revogação do aumento das passagens, não há indicativo de cessar a revolta da população.
Nas últimas semanas, diversos países vêm expressando um ascenso de movimentos de massas e mobilizações, em luta contra as degradações das condições de vida e em defesa das liberdades, como o Equador, a Catalunha, Honduras, Colômbia, Líbano, Haiti, Iraque, além da intensificação da luta do povo curdo, frente aos ataques sofridos pelo exército Turco, sob as ordens de Erdogan.