As críticas ao Novo Ensino Médio (NEM) pelo conjunto de pesquisadores e lutadores do campo da educação evidenciam com bastante clareza o significado desse modelo para a formação da juventude da classe trabalhadora: preparação para o trabalho simples e precário, para suportar o desemprego e modelar uma forma de ser resignada perante a degradação das condições de vida e trabalho.
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Trata-se de um modelo que aprofunda a desigualdade entre o ensino destinado aos filhos da classe trabalhadora e aos filhos da burguesia. De forma a legitimar a intensificação da exploração da força de trabalho e do exército de reserva, entre outros ajustes que os capitalistas buscam fazer para manterem-se como classe dominante. Em última instância, um modelo que busca legitimar a máquina de moer gente dos capitais para a juventude da classe trabalhadora.
Isso tem se refletido na perda do espaço curricular de aulas fundamentais das bases das ciências naturais como química, física e biologia, assim como das de base das ciências humanas, como geografia, história, sociologia e filosofia enxugadas em um bloco de áreas de conhecimento. Sendo ocupadas por aulas de caráter totalmente alienante, como o projeto de vida, empreendedorismo, “como fazer brigadeiro”, “sonhando alto”, “o que rola por aí”, entre outras disciplinas que levam títulos altamente duvidosos.
A expansão da grade curricular com aulas esvaziadas de conteúdo socialmente referenciado também vêm contribuindo com a exclusão de estudantes trabalhadores das escolas públicas, pois para os estudantes que estudam no período noturno, o novo ensino médio acrescenta um ano a mais na formação e para os demais períodos, em algumas redes as aulas cobrem horários de almoço e início da tarde.
De forma alguma a oposição ao Novo Ensino Médio significa uma defesa do modelo antigo. É preciso repensar o sentido e o papel da educação pública para a juventude hoje, mas o NEM nada tem a ver com os anseios e dilemas que envolvem as necessidades formativas da juventude.
O NEM é uma proposta de formação que responde à atual realidade do trabalho no Brasil, está em consonância com a reforma trabalhista, assim como outras que foram aprovadas nos governos Temer e Bolsonaro, que degradam a vida dos trabalhadores, como a reforma previdenciária e a EC 95, que congelou os gastos com políticas públicas por 20 anos no país. Todas essas reformas foram rapidamente aprovadas, em combo, viabilizadas pelo golpe de 2016, um golpe que os capitais impuseram à população brasileira.
Desse modo, o NEM reflete uma realidade que precisa ser urgentemente superada, a realidade do trabalho precário, informal, de intensificação de cargas e jornadas, de expropriação de direitos, uma realidade que possibilita a ampliação de situações de trabalho análogo à escravidão, entre outras situações gravíssimas que afligem a classe trabalhadora de nosso país hoje. A luta pela revogação do novo ensino médio, passa ao lado da luta pela revogação da reforma trabalhista. É urgente recompor as condições de vida e trabalho no Brasil e lutar por um outro futuro e horizonte para os jovens brasileiros.
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