Depois de 33 dias, quando a cidade estava começando a se recuperar dos estragos, novos temporais muito intensos voltaram a causar alagamentos, deslizamentos e mortes na cidade. Ao menos seis pessoas morreram, após novos temporais que atingiram a cidade desde domingo, dia 20. Os bombeiros resgataram uma pessoa com vida e há três outras desaparecidas.
Duas mortes foram registradas no Morro da Oficina, no Alto da Serra, a região mais atingida na chuva de 15 de fevereiro, onde foram registradas mais de 80 mortes. Duas na Rua Washington Luiz, uma das principais do centro da cidade. Uma na Rua Pinto Ferreira, no bairro Valparaíso.
No dia 20 de março houve acumulado pluviométrico de 534,6 milímetros de chuva, o maior índice já registrado na história de Petrópolis. Ao todo, 574 pessoas foram atendidas em pontos de apoio. As localidades mais atingidas foram São Sebastião com 415 mm, Coronel Veiga com 375,2 mm, Dr. Thouzet com 363,8 mm e Vila Felipe com 337,4 mm.
Esse tipo de tragédia não é uma mera fatalidade
“Isso que se chama gestão urbana não existe em São Paulo, não existe no Rio e, certamente, não existe em Petrópolis”, afirma o professor Adacto Ottoni, do departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UERJ. “Trabalhamos sempre em cima das tragédias e botamos a culpa no aquecimento global; e as obras de engenharia necessárias simplesmente não são feitas. Existe solução, mas falta vontade política.”
Secretário-executivo do Observatório do Clima, Márcio Astrini concorda com o colega no que diz respeito à adaptação das cidades a eventos extremos. “Nunca conseguimos relacionar um evento específico ao aquecimento global, mas podemos dizer que esse conjunto de eventos extremos que estão ocorrendo no planeta estão relacionados às mudanças climáticas”, afirmou.
Moradores protestam
Na manhã de ontem, moradores de Petrópolis realizam uma manifestação contra o prefeito da cidade, Rubens Bomtempo (PSB). O ato aconteceu em frente à sede do governo municipal, na Avenida Koeller. Cerca de 200 pessoas participam da manifestação que interditou a via, uma das principais da região central. Eles carregam cartazes e gritam palavras de ordem como “covarde”, “não adianta se esconder” e “Fora Bomtempo”.
Morador do Morro do Calango, no bairro Floresta, o auxiliar de serviços gerais Marivaldo Rodrigues teve de sair de casa com a família após a chuva de fevereiro e quando pensava em retornar, teve a casa atingida no temporal do último domingo. Ele participava do protesto com um cartaz com os dizeres: “Ucrânia é menos perigoso que Petrópolis!”.
O cartaz de Marivaldo chama atenção para como os olhares da mídia estão voltados para o outro lado do mundo enquanto a classe trabalhadora brasileira sofre e morre cada vez mais.
Um convite aos leitores
Para refletir de forma mais ampla sobre esses eventos, sobre como as cidades se organizam para receber ou expulsar os trabalhadores de certas localidades, para oferecer ou deixar de ofertar adequada infraestrutura urbana, entre outras problemáticas envolvidas na crise ambiental e urbana que ocorre no Brasil, convidamos a todos para um debate junto do Professor Doutor Cláudio Ribeiro, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O evento será realizado no dia 05 de Abril, às 19h, de forma online, no canal do Youtube da Escola de Formação Política da Classe Trabalhadora Vânia Bambirra. As inscrições para participar do evento estão abertas na página da Efop.
Cláudio Ribeiro é colunista do Universidade à Esquerda, você pode acompanhar as contribuições do professor para importantes debates sobre a realidade brasileira clicando aqui.