A investigação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 no Senado Federal revelou nesta semana que a farmacêutica EMS faturou oito vezes mais neste ano com a venda de medicamentos do “kit covid”, em comparação com a receita do ano anterior. A descoberta se deu através da quebra de sigilo do empresário da EMS, próximo de Bolsonaro, Carlos Sanchez.
A empresa foi responsável pela venda de ivermectina, azitromicina, hidroxicloroquina e nitazoxanida durante a pandemia. Somente a receita das vendas de ivermectina saltou de R$2,2 milhões para R$71,1 milhões no último ano. O faturamento com a hidroxicloroquina foi ainda mais expressivo, 20 vezes maior que no ano anterior à pandemia.
O presidente Bolsonaro está sendo investigado por ter interferido, em conversa com o primeiro-ministro da Índia, na liberação dos insumos para a fabricação da hidroxicloroquina pela Aspen e EMS. A ação em benefício das empresas está sendo chamada por muitos jornais de lobby do presidente.
“O sucesso da hidroxicloroquina para tratar a Covid-19 nos faz ter muito interesse nessa remessa indiana. Estou informado de que um carregamento de 530 quilos de sulfato de hidroxicloroquina está parado na Índia, à espera de liberação por parte do governo indiano. Esse carregamento inicial de 530 quilos é parte de uma encomenda maior, e foi comprado pela EMS”
, diz Bolsonaro em telefone, transcrito no telegrama do Ministério de Relações Exteriores, em posse da CPI.
O investimento público e propaganda política do governo Bolsonaro em medicamentos ineficazes é um dos pontos centrais investigados pela CPI. O presidente contrariou as recomendações que revelam que o medicamento, além de ineficaz, pode ser prejudicial para a saúde se ingerido em grandes quantidades. Em meio ao terror da falta de vacinas e o medo que se instaurou no país, esta propaganda foi vista como extremamente danosa.
No Laboratório do Exército foram fabricados mais de 3,2 milhões de comprimidos de hidroxicloroquina durante a pandemia, em comparação com os 256 produzidos em 2017.
Em ofício enviado à Comissão, a farmacêutica EMS também admite a inutilidade e o perigo dos medicamentos vendidos sem prescrição:
“A primeira pesquisa apoiada pela Companhia foi publicada em 23.07.2020, no New England Journal of Medicine, e concluiu que o uso de hidroxicloroquina, sozinha ou associada com azitromicina, não mostrou efeito favorável na evolução clínica de pacientes adultos hospitalizados com formas leves ou moderadas de Covid-19”
, disse a EMS.