Painel do leitor
Painel do Leitor | Democracia e exportação de commodities no Brasil
Texto enviado pelo leitor Bruno Machado, do Rio de Janeiro, discute a relação entre democracia e a dependência de exportação de commodities.
Brasil não será democrático enquanto for mero exportador de commodities
Países dependentes de exportação de commodites como o Brasil e maior parte dos países do sul global, que têm suas economias voltadas aos setores de serviços simples, agropecuária e mineração, não costumam ser países com instituições tão fortes e nem tão democráticos quanto os países europeus e do norte do planeta em geral. Isso acontece pois, no capitalismo o poder econômico é o principal instrumento de poder da sociedade, incorporando os poderes políticos e militares dentro de si na maioria dos lugares. Com poucas atividades econômicas dominantes, a elite econômica de um país como o Brasil acaba sendo muito concentrada, o que impede a democracia de funcionar de forma mais próxima de uma democracia plena, como acontece em quase todos os países desenvolvidos.
Com o poder econômico altamente concentrado, as ilhas de poder dentro dos setores políticos e militares de cada país do sul global acaba sendo também pouco dispersas, causando uma concentração de poder quase feudal nesses países. A saída dessa estrutura e o caminho para uma sociedade mais democrática seria a diversificação da economia, o que só ocorre após um processo de industrialização e avanço tecnológico, como ocorreu no Reino Unido e nos EUA séculos atrás e nos Tigres Asiáticos mais recentemente na história. Acontece que, com uma elite econômica concentrada e poderosa, mudanças nesse sentido que causariam grandes mudanças também na divisão de poder dentro da sociedade não acontecem, pois são impedidas por essa elite ligada a agropecuária e mineração, seja através de boicotes, golpes militares ou institucionais ou apenas campanhas midiáticas.
Uma das estradas para o desenvolvimento econômico, causado pela industrialização e avanço tecnológico, que também leva a uma maior democratização da sociedade, ocorre quando as elites locais concentradas precisam desenvolver tecnologicamente seu país para se defender de ameaças militares de outras potências ou para evitar que sua fatia no comércio global (parcela de exportações de produtos e serviços que circulam o planeta) seja reduzia pelo crescimento econômico de outra potência liderada por outra elite local de outro país.
Como a elite brasileira nunca ocupou nenhum papel de protagonismo no comércio global, a ponto de temer o surgimento e crescimento de alguma potência concorrente, e nem mesmo tem alguma ambição de crescer no comércio global e conquistar uma maior fatia da demanda global por produtos e serviços, o Brasil provavelmente permanecerá preso nessa estrutura econômica concentrada e nessa sociedade pouco democrática. Apenas uma mudança de mentalidade na elite econômica que venha a temer concorrentes de outros países ou uma mudança radical no pensamento dentro das Forças Armadas poderia dar ao Brasil uma chance de tentar se desenvolver economicamente e assim ser um país mais democrático também.