No momento atual de segunda onda da pandemia, com números de contaminados e de mortos que continuam a crescer aceleradamente, o que vemos diminuir é a faixa etária dos pacientes internados por Covid-19. O percentual de mortes de jovens entre 18 e 45 anos por Covid-19 nas UTIs brasileiras triplicou, segundo dados compilados de 1.593 unidades de terapia intensivas públicas e privadas do país. De acordo com os dados da Amib (Associação de Medicina Intensiva Brasileira), o percentual de jovens mortos passou de 13,1% para 38,5%, um aumento de 193%.
De acordo com dados divulgados pela Fiocruz, na faixa etária dos 30 aos 39 anos, o aumento foi de 565,08% entre a primeira semana epidemiológica do ano, que vai de 3 a 9 de janeiro (440 hospitalizações) e a 10a semana epidemiológica, que vai de 7 a 13 de março (2.923 hospitalizações). Entre os que têm de 40 a 49 anos, o salto foi de 626%. Foram 626 pessoas internadas dessa faixa etária na primeira semana de janeiro, contra 4.548 na semana de meados de março. Pessoas abaixo de 55 anos e sem comorbidades fazem filas cada vez maiores para entrar nos pronto-socorros e nas unidades de terapia intensiva com quadros graves de Covid-19, com períodos de internações mais longas.
Uma das razões pelas quais infectologistas estão atribuindo a queda na média de idade dos pacientes com covid-19 tem ligação com a variante P1 do coronavírus, detectada inicialmente no Amazonas. A mutação do vírus tem uma capacidade de transmissão dez vezes mais alta que as anteriores e mais resistente a anticorpos já existentes em pessoas que tiveram a doença previamente, o que pode causar reinfecções por exemplo. O que se destaca nessa nova variante é que as mudanças ocorreram nos genes que codificam a espícula, a estrutura que fica na superfície do vírus e permite que ele invada as células do nosso corpo.
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Ao fim de janeiro, pesquisadores analisaram a presença da nova variante em 142 amostras do coronavírus de pacientes de Manaus, coletadas entre 15 de dezembro e 9 de janeiro. A nova variante foi encontrada em 52% das amostras de dezembro e em 85% das amostras de janeiro. Outro estudo mostrou a presença da variante P1 em 91% dos casos de covid-19 no Amazonas. Pesquisas atuais nos diferentes estados brasileiros tem encontrado a variante como predominante nos casos, como no Distrito Federal, que publicou um estudo feito com 44 amostras genéticas no início de março, sendo a variante P1 encontrada em 24 delas, divulgada pelo secretário de Saúde Osnei Okumoto, em coletiva na quinta-feira (25/03).
A gravidade que está sendo identificada no momento se reflete também não só pelas capacidades do vírus em se transmitir, mas na quantia de cuidados e tratamentos que estão sendo exigidos pelos quadros agravados de pacientes que precisam cada vez mais de ventilação mecânica, prona (técnica que deixa o paciente de barriga para baixo), diálise e aparelhos artificiais por conta de órgãos comprometidos.
Além de prováveis ligações com a mutação genética do vírus, um dos fatores que facilita a transmissão são as aglomerações, que além daquelas mais denunciadas pela mídia, como as festas clandestinas, bares funcionando em suas capacidades máximas e praias cheias, há a falta de opção do leque de possibilidades da maioria dos trabalhadores que precisam sair de suas casas para trabalhar e para isso enfrentam diariamente ônibus e metrôs lotados sem controle de distância e ventilação, mesmo em fases vermelhas decretadas por estados. Jovens se expondo diariamente, nos mais variados contextos, vírus com capacidade de transmissão ainda maior e uma vacinação caminhando lentamente são elementos desse quadro de colapso.