Jornal socialista e independente

Lalo Minto

É professor da Faculdade de Educação da Unicamp. Pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas Educação e Crítica Social (GEPECS). Autor de: A educação da miséria: particularidade capitalista e educação superior no Brasil e As Reformas do Ensino Superior no Brasil: o público e o privado em questão.

2020: quatro anos em um

29 de dezembro, 2020 Atualizado: 10:56

Lá se vai o “ano da pandemia”, que começou em 2019 e que, com muita sorte, poderá terminar em 2021. No Brasil, inegavelmente foi um ano de tragédias: às quase 200 mil mortes (subnotificadas) pela Covid-19 somam-se as mais de 32 mil mortes violentas (somente até setembro)[1], a maior tragédia ambiental deliberadamente instalada que incendiou vastos territórios da flora e fauna brasileiras, a crise econômica e a explosão do desemprego. Estes são apenas alguns episódios dessa tragédia que se chama Brasil, mas nem por isso é possível afirmar que 2020 surpreenda.

As vítimas da pandemia, uma classe trabalhadora que se pauperizou ainda mais, as vidas negras ceifadas pela ação repressiva das polícias e pelo racismo estrutural que as torna vítimas em potencial do conjunto da sociedade, a violência da adoção do chamado “ensino remoto”, a ausência de uma política efetiva de prevenção e combate à pandemia, tudo isso é – ao mesmo tempo – o sucesso do governo Bolsonaro e de seus aliados, explícitos ou não.

Sim, o sucesso de um governo e um programa político em que tragédia, violência, genocídio e indiferença são eixos estruturantes. Com ou sem pandemia. Um projeto que vem a calhar com a dinâmica do capitalismo brasileiro em crise e cujas contradições revelam antes a adequação (sem disfarces) que o despreparo das forças políticas que ocupam o governo, como quer uma parte da opinião pública que, com certo saudosismo[2] alienante, se compraz com a imagem de um governo “esclarecido” que poderia fazer diferente e parece aguardar por uma autodissolução do projeto em curso. Bolsonaro e o bolsonarismo são gerentes eficazes dessa máquina da morte e da destruição que é o capitalismo brasileiro no século XXI.

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