Queimadas pelo Brasil indicam grave situação ambiental, política e social
Efeitos são sentidos na saúde e no sustento de famílias
Por Flora Gomes, redação do Universidade à Esquerda
22 de setembro, 2020 Atualizado: 12:15
As queimadas que se alastram pelo bioma Pantanal estão transformando as paisagens e formas de vida de muitas populações. As condições climáticas, que resultam em um ambiente extremamente seco na região, somada à gestão política das questões ambientais, tem resultado em um cenário extremamente grave em diversas regiões do Brasil e, até mesmo, em países adjacentes.
Segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) no dia 17 de setembro, o Pantanal já havia batido o recorde histórico de queimadas para todo o mês. O maior número até então registrado para Setembro foi no ano de 2007, com 5.498 focos de calor computados pelo Programa de Queimadas do instituto.
Em um relatório publicado em 13 de setembro, as condições climáticas indicavam situação neutra, ou seja, que não há influência dos fenômenos de El Niño ou La Niña. Entretanto, até dia 12 de setembro registrou-se uma média de temperatura máxima entre 4 a 5°C acima do valor climatológico na região.
Ane Alencar, geógrafa e diretora de ciências do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), explica que as queimadas, de maneira geral, dependem de três elementos: material combustível, condições climáticas e fonte de ignição para dar início ao fogo. Segundo ela, no Pantanal o clima seco parece contribuir com a piora do cenário. Mas o efeito climático não explicaria sozinho a condição atual.
Cinco perícias que foram realizadas pelo governo do Mato Grosso apontam a ação humana como origem das queimadas em focos de incêndio iniciadas em junho e julho. Segundo as perícias que já foram realizadas na região em momentos anteriores, foram identificados focos pela criação de pastos, acidentes na rodovia, problemas técnicos em máquinas agrícolas e fogueiras usadas para extração de mel silvestre.
Não apenas o Pantanal, mas também a Amazônia e o Cerrado estão enfrentando fortes impactos de queimadas .
A tabela mostra o número de focos de incêndio verificadas por satélite do período de janeiro a setembro dos últimos seis anos. Com mais de 112 mil focos de incêndio em todos os biomas brasileiros, 2020 é o ano com maior número. Chama atenção a elevada quantidade de queimadas no bioma amazônico e no cerrado. No pantanal, apesar dos números absolutos não serem tão grandes, justificados pela própria extensão do bioma, o crescimento relativo é assustador: 324% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Segundo o Inpe, na primeira quinzena deste mês na Amazônia houve crescimento de 86% de focos de calor em comparação ao mesmo período do ano passado. Já no cerrado, os registros apresentam um crescimento de 9,21% na mesma época.
Neste ano, os estados mais afetados pelas queimadas são Mato Grosso, Pará e Amazonas.
Mas as consequências de todos esses incêndios podem ser notadas em muitas cidades brasileiras. As fumaças das queimadas da Amazônia, Cerrado e Pantanal estão atingindo estados relativamente afastados dos focos, como São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina. A fumaça e as partículas liberadas são levadas pelos ventos e podem resultar em cores incomuns no céu e precipitações com colorações escurecidas.
As consequências de queimadas extensas e frequentes podem gerar danos irreversíveis para o território, podendo tornar o bioma mais inflamável.
Segundo Laura Ferreira da Silva, quilombola da Comunidade Mutuca localizada em Nossa Senhora do Livramento (MT) a situação é extremamente insalubre. Os moradores passam o dia respirando fumaça e sequer podem olhar o que há por detrás da densa fumaça. Ela cita o aumento das queimadas e a preocupação com o sustento das famílias, já que os efeitos são diretos na saúde e também no sustento.
Os efeitos das queimadas também estão relacionados com a gestão política do atual governo. No final de Agosto, o Ministério do Meio Ambiente decidiu suspender operações de combate ao desmatamento ilegal na Amazônia e ações conta as queimadas na região do Pantanal. A perda de recursos para estes fins foi de R$ 60,7 milhões de reais. Além da verba já perdida, em 2021 serão cortados R$ 120 milhões do orçamento do meio ambiente.