A pauta da taxação dos super ricos é algo muito caro para a esquerda, em especial em um momento de crise tão grave quanto o que estamos vivendo. Enquanto ultrapassamos a marca dos cem mil mortos por Covid-19 e a maior taxa de desemprego já vista na história do país, 42 bilionários brasileiros tiveram um aumento de aproximadamente R$176 bilhões em seus patrimônios. Ou seja, enquanto a classe trabalhadora banca com a vida a retomada das atividades econômicas, uma parte da burguesia enriquece ainda mais.
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A conjuntura impõe urgência na apresentação de um projeto em prol da classe trabalhadora e acabar com a existência de bilionários é parte fundamental para alcançar este objetivo. Entretanto, para quem as centrais sindicais estão apresentando este projeto?
A saída que esse setor da esquerda historicamente têm investido suas forças é a redução de danos pela via da associação com parlamentares à esquerda, que se aliam à classe dominante para negociar pequenas alterações nos textos originais dos projetos de lei.
Temos como triste exemplo dos resultados desta aposta uma das últimas grandes derrotas que a classe trabalhadora sofreu: a contra reforma da previdência, aprovada com o apoio de diversos parlamentares de esquerda que trabalharam em conjunto para tornar a reforma mais “palatável” ao conjunto dos trabalhadores. Outro exemplo é o pacote anti-crime idealizado por Sérgio Moro, aprovado por ampla maioria e sendo tratado como uma grande vitória, pois o texto aprovado excluía pontos mais críticos como o excludente de ilicitude e o plea bargain¹.
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Esta forma de fazer política só é possível quando feita em detrimento da organização real da classe trabalhadora, pois ela tornaria inaceitável que parlamentares se unissem com a burguesia para salvar uns enquanto outros são lançados à própria sorte.
Tomemos como exemplo o pacote anti-crime: se os partidos de esquerda e centrais sindicais estivessem organizando a classe trabalhadora, a proposta de aprimorar o sistema carcerário racista que existe hoje sofreria duras críticas, o que obrigaria por uma postura no parlamento de denunciar que essa proposta serve para mandar mais pessoas negras ao cárcere, sem a possibilidade de acordos com quem é abertamente favorável ao genocídio do povo negro.
O mesmo vale para a reforma da previdência. Caso a classe trabalhadora estivesse organizada jamais seria aceito parlamentares que dizem estar a favor da classe — e que conseguiram seus votos fundamentalmente por ela — defenderem um projeto que retira direitos conquistados com muita luta ao longo dos anos. Os partidos e centrais envolvidos nisso seriam rechaçados e jamais conseguiriam sequer participar de um ato junto dos trabalhadores.
Fica claro, portanto, que a defesa não é por uma rejeição dos espaços institucionais de luta, mas sim de que eles sirvam à luta em todos os sentidos possíveis. Que através desse espaço os parlamentares consigam se ocupar da organização da classe, de fazer amplos chamados e jamais esquecer do objetivo maior que é a revolução socialista.
O que temos hoje é o completo oposto disso. Parlamentares que estão muito mais focados na construção de sua imagem pessoal e de sua carreira política do que no embate político. Tentam passar para um “povo” abstrato que estão cumprindo tarefas ao participarem de todo o tipo de grupo de trabalho para colocar num currículo a ser exposto nas campanhas eleitorais.
Nesse momento de graves ataques contra a vida da classe trabalhadora, o imprescindível é que as centrais sindicais e os partidos de esquerda estejam dentro das lutas, impulsionando-as. Em espaços como a Câmara ou o Senado o papel de um parlamentar de esquerda deveria ser travar as contra reformas que forem propostas contra a classe trabalhadora, pois não há redução de danos naquilo que é fundamentalmente contra a própria classe — e não o oposto, que é utilizar-se das lutas para crescer em sua carreira política.
Que as últimas derrotas sirvam de exemplo a todos nós. Se não houver disputa à altura dos ataques por parte daqueles que dizem representar a esquerda é preciso estar claro que estes não estão ao nosso lado na luta.
¹Plea bargain é uma forma de acordo entre as partes de um processo onde é possível amenizar a pena mediante a uma confissão de crime, por exemplo.
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