Campanha na UFRRJ
Um grupo composto por diversos estudantes, coletivos e organizações lançaram uma campanha que se coloca contrária a adoção ao Ensino a Distância (EaD) na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Intitulada “Contra a precarização – Ensino remoto na UFRRJ é exclusão”, a campanha divulgou uma nota ontem apresentando argumentos que subsidiam a posição contrária aos estudos continuados emergenciais (ECEs), nome dado pela Administração Central ao Ensino Remoto.
No texto de lançamento, as bases que compõem a mobilização argumentam que a adoção aos ECEs foi feita de maneira autoritária e apressada pela Administração Central, excluindo parcelas significativas da comunidade universitária dos debates. O grupo aponta também para a acentuação de desigualdades atreladas à adoção dessa modalidade, já que muitos estudantes ficariam excluídos das atividades de ensino por diversas razões.
Além disso, na nota apresentada pela campanha, destaca-se a fragilidade em termos da qualidade de ensino. O grupo defende ser contrário ao Ensino Remoto não apenas pela inerente exclusão daqueles que não puderem acompanhar as atividades neste formato, mas também por defenderem qualidade de ensino na Universidade. No lançamento da campanha destacou-se como a adoção dos ECEs é uma medida que se alinha com projetos anteriores do Estado às universidades públicas, como o “Future-se”, cujo intuito seria de destruir princípios importantes dessas instituições. Outro argumento importante é o questionamento quanto à priorização do cumprimento do calendário letivo em detrimento da manutenção do alto nível de formação.
Leia a nota postada no Facebook pela campanha:
Campanha contra a Precarização – Ensino Remoto na UFRRJ é exclusão!
Ruralinas e ruralinos,
Esta campanha surge por manifestações de estudantes, entidades, coletivos e organizações a fim de articular ações de propaganda, bem como análises e debates, acerca dos prejuízos e contradições inerentes à imposição dos estudos continuados emergenciais (ECEs) na UFRRJ. Tais contradições, que já vêm acompanhando a implementação desde o início das discussões – travadas de maneira autoritária, apressada e nebulosa pela administração central – são marcadas pela frágil participação de setores importantíssimos da universidade, como técnicos e discentes, na elaboração das propostas, e de alternativas aos estudos continuados emergenciais, e apontam para a precarização do ensino público e para a exclusão dos estudantes mais pobres e em maior vulnerabilidade, neste contexto de pandemia.
Como posto pela carta dos centros, diretórios acadêmicos e DCE, a maioria expressiva das entidades de base da UFRRJ são contrárias à imposição do ensino remoto por diversas razões: desde o caráter de gravidade e exceção do momento que estamos vivendo, que não é compatível com uma imposição de cobranças características de um semestre letivo, até a imensa desigualdade de condições entre os estudantes, e mesmo professores, que vão ter que se virar para dar conta de conseguirem acompanhar as aulas. Não compactuamos com o caráter supostamente opcional do semestre extraordinário, uma vez que ele somente visa disfarçar a exclusão inerente a este processo, na qual os estudantes que não terão condições de acompanhar os estudos ficarão de fora. É muito mais uma forma da universidade de invisibilizar estas contradições do que uma intenção benevolente de resguardar os estudantes.
Não dissociamos a imposição do ensino remoto das intenções privatistas e neoliberalizantes daqueles que ocupam atualmente o MEC e que visam somente favorecer os interesses dos grandes conglomerados da educação, objetivos já expostos claramente ano passado, com os cortes, contingenciamentos e o projeto Future-se (agora Projeto de Lei). Da mesma forma, nos recusamos a aceitar que a manutenção do ensino e do calendário letivo deva ser a prioridade das universidades nesse momento – e lembramos aqui, mais uma vez, que as atividades de extensão e pesquisa estão funcionando remotamente desde o início da suspensão das atividades presenciais – mas sim a garantia da segurança e do bem estar de todos os trabalhadores, trabalhadoras e estudantes da instituição, bem como das comunidades do entorno. Acatarmos quaisquer pressões por produtividade e desempenho significa nos submetermos às vontades daqueles que tem por missão destruir a educação pública de qualidade.
Diante disso, convidamos todas e todos a se somarem na luta contra mais este ataque, articulados em defesa de uma universidade popular e denunciando as contradições e a exclusão que a continuação dos estudos de forma remota causará.
Contra a precarização! Ensino remoto na Rural é exclusão!
Outras universidades também se levantam contra o EaD
Com a adoção generalizada dessa alternativa para as universidades, diversas outras instituições também têm organizados campanhas de resistência.
Na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), um grupo composto pelas bases de diversos cursos estão realizando uma campanha contra a precarização da educação e o ensino remoto. O estudantes visam pressionar as representações estudantis, que não têm levado debates às bases, para compor uma oposição em conjunto com Centros Acadêmicos para pressionar a reitoria da universidade.
Estudantes da Universidade Estadual de São Paulo (USP) manifestam contrariedade ao EaD, adotado na USP precocemente desde o início do período de afastamento social. A mobilização visa revogar a adoção dessa modalidade na USP, universidade de referência nacional em termos de qualidade para o país. São adotadas táticas como boicotes às aulas e provas, bombardeio às caixas de correio virtual das diretorias para pressionar a reitoria para suspensão do semestre letivo.
Na Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) discentes ciram um jornal intitulado “A voz estudantil” com objetivo de apresentar debates. O Jornal levantou discussões acerca da contrariedade ao Regime Especial – como foi chamada a adoção ao EaD na UENP no final de maio.
Em Araraquara, a Universidade Estadual Paulista (Unesp) um movimento organizado pela base estudantil surge como resistência ao EaD adotado desde março na instituição. Em entrevista realizada ao Universidade à Esquerda, o movimento debateu aspectos importantes acerca do impacto do ensino remoto, bem como a atuação das entidades estudantis frente à conjuntura.
Na Universidade Federal de Grande Dourados (UFGD) a comunidade universitária se mobiliza via campanha de bases contra a implementação do ensino remoto, realizando debates acerca da precarização de ensino e trabalho, bem como o projeto de financeirização e privatização da educação pública.
Na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) um grupo de docentes publicou um manifesto que circulou massivamente pelas redes. No texto, os professores se colocam contrários à adoção do ensino remoto, apontando reflexões significativas sobre o significado deste projeto para as universidades públicas.
Caso sua Universidade também esteja se mobilizando contra o EaD, envie seu relato para o Jornal acessando a seção de “Painel do Leitor”. Se sua instituição de ensino já adotou esse modelo, envie-nos textos que contem sobre sua experiência.