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Moro deixa o governo fazendo graves acusações a Bolsonaro

Por Clara Fernandez, redação do Universidade à Esquerda
24 de abril, 2020 Atualizado: 14:34

Após exoneração do diretor-geral da Polícia Federal, Marcelo Valeixo, Sérgio Moro entregou seu cargo no ministério da justiça e segurança pública no fim da manhã de hoje. Em coletiva realizada à imprensa para anunciar sua saída o ex-ministro acabou por realizar uma série de graves acusações à Jair Bolsonaro, que colocam sua permanência no cargo em risco.

Moro já havia pedido demissão na quinta (23), em função do pedido de Bolsonaro para que o ex-ministro exonerasse o diretor-geral da PF. Ao que parece, ainda havia tentativas de manter Moro no governo por parte da ala militar, mas a publicação da exoneração de Valeixo no diário oficial da união durante a madrugada fez com que a saída por fim se efetivasse. Em seu pronunciamento, o ex-ministro disse que foi surpreendido, pois ficou sabendo da exoneração somente através da publicação no DOU, que não assinou o decreto que a concretizava, assim como Valeixo não havia feito o pedido.

Segundo Moro, Bolsonaro pediu para que a direção da polícia federal fosse trocada por um nome que lhe permitisse ter acesso aos relatórios confidenciais de inteligência da instituição, ou seja, que lhe permitisse interferir diretamente nas investigações em curso, ferindo o princípio de autonomia dos três poderes. Além disso, havia a intenção de realizar mudanças em toda a estrutura da instituição, interferindo também nas nomeações de superintendentes no Rio de Janeiro e em Pernambuco. Isto configura em mais um crime de responsabilidade por parte do mesmo. Moro indicou que a motivação do Presidente para forçar a mudança e intervenção na instituição teria relações com inquéritos no STF. Especula-se por parte da impreensa que isto teria relação com as investigações da CPI da fake news ter avançado ao ponto de atingir os filhos de Bolsonaro.

Confira trecho da fala de Moro na coletiva:

Mas o grande problema é que não é tanto essa questão de quem colocar . Mas por que trocar ? E permitir que seja feita a interferência política no âmbito da polícia federal. O presidente me disse mais de uma vez que queria ter uma pessoa da confiança pessoal dele, que ele pudesse ligar, que ele pudesse colher informações, relatórios de inteligencia. Seja diretor , seja superintendente. E não é o papel da polícia federal prestar esse tipo de informação.[…] Presidente também me informou que tinha preocupação com inquéritos em curso no Supremo Tribunal Federal, em que a troca também seria oportuna, da Polícia Federal, por esse motivo. Também não é uma razão que justifique a substituição, até algo que gera uma grande preocupação.

Enfim, eu sinto que tenho o dever de tentar proteger a instituição, a Polícia Federal, e por todos esses motivos, ainda busquei uma solução alternativa, para tentar evitar uma crise política durante uma pandemia, acho que o foco deveria ser o combate a pandemia, mas entendi que eu não podia ai deixar de lado esse meu compromisso com o Estado de Direito.”

Alguns indícios já estavam dados quando, na semana passada, Bolsonaro foi à público afirmar que possuía um relatório de investigação de um plano para derrubá-lo por parte do congresso. Outra afirmação que configura em sério crime de responsabilidade, tendo em vista que se trataria de uma atividade de espionagem de um poder sobre o outro. Além disso, nas declarações feitas pelo fim da quarentena no último fim de semana, o mesmo chegou a afirmar que ele era a democracia em tons absolutistas.

Embora o discurso de Moro afirme defender o caráter técnico e sem interferência político-partidária da polícia federal, não é possível esquecer seu papel na operação lava-jato, que tirou da concorrência do pleito eleitoral o candidato com mais chances de derrotar Bolsonaro. Suas conversas e interferências junto a procuradores da operação foram explicitadas pelas denúncias do jornal The Intercept. 

Agora, como uma ironia, Moro afirmou que sai pois permanecer seria afrontar o “Estado democrático de direito”. De qualquer forma, ainda que pela direita, trata-se de um ministro acusando um presidente de romper os princípios da manutenção da ordem.

Por mais que o governo de Bolsonaro seja levado à base da instabilidade, o pronunciamento de Moro colocou-a em um ponto decisivo e que pode vir a derrubá-lo. Sua permanência no cargo depende de como as demais forças no poder irão reagir, se decidirão salvá-lo ou abandoná-lo. O presidente anunciou em seu Twitter que irá realizar pronunciamento público às  17h. Estão sendo convocados panelaços por parte dos setores da esquerda durante o pronunciamento.


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