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Opinião

1 milhão de pessoas infectadas pelo coronavírus no mundo: até onde podemos chegar?

Foto: HGIS Lab/University of Washington.
Por Thiago Zandoná, redação do Universidade à Esquerda
02 de abril, 2020 Atualizado: 18:43

O novo coronavírus (SARS-CoV-2) infectou 1 milhão de pessoas pelo mundo até o momento. Entre os doentes, cerca de 51 mil morreram e 210 mil conseguiram se recuperar. O alastramento da doença cresce exponencialmente e tudo indica que ainda levará meses até conseguirmos deter a propagação do vírus, reverter a maior parte dos casos e desenvolver uma vacina (a qual deve levar cerca de 2 anos para ser desenvolvida) e medicamentos capazes de combatê-lo.

Ao comparar o número de novos casos e do total de casos confirmados em todos os países, é possível perceber uma tendência similar de crescimento exponencial. Ou seja, há um constante aumento percentual do número de infectados e mortes causadas pelo Covid-19 no mundo.

A que ponto podemos chegar? 

É impossível determinar. Mas sabemos de algo ainda mais importante: como mitigar a propagação, reduzindo os danos e o número de casos fatais.

Estamos no meio da curva de crescimento e por isso não podemos saber em que momento ela estabilizará e começará a diminuir. Em termos matemáticos, a tendência é atingir a totalidade. A despeito do número de casos particulares em cada país, é possível afirmar que praticamente todos estão seguindo a mesma tendência de crescimento. Estamos todos na mesma trajetória, apenas em diferentes momentos no tempo.

No gráfico em escala logarítmica na base 10 registra-se o crescimento em múltiplos de 10 (100, mil, 10 mil, 100 mil, 1 milhão), o que permite expandir os números menores e achatar os números maiores, tomando o crescimento igualmente visível em todas as escalas. Isso permite comparar o crescimento entre países com diferentes números de casos. Ao olhar para esse gráfico, a similaridade no crescimento entre os países é tácita. 

A característica definidora de crescimento exponencial é a de que o número de novos casos é proporcional ao número de casos existentes, o que significa que ao colocar os novos casos em relação aos casos totais, o crescimento exponencial aparece como uma reta.

Esses números se baseiam nos dados oficiais confirmados. Mas o número de casos totais realmente existentes é desconhecido. Certamente há muito mais pessoas infectadas do que o número de casos confirmados registram. No Brasil, segundo pesquisadores, detectamos apenas 8% a 15% do total de casos. Por falta de testes, apenas os casos mais graves vão para análise. Há, inclusive, centenas de mortes no país com laudo em andamento. Em países com testagem massiva, como na Coréia do Sul, estima-se que os casos confirmados representam 85% do total de casos existentes. 

Isso nos ajuda a avaliar a dimensão e a seriedade com a qual devemos tratar tal assunto. Mesmo nas regiões com baixo número de casos, é preciso estar ciente de que estamos todos indo para a mesma direção. A propagação do vírus não está em vias de encerrar tão cedo.

Porém, não saber a dimensão desta pandemia e qual marca ela deixará na humanidade, não significa desconhecer como combater e minimizar seus danos.

Sabemos que o isolamento social e a testagem massiva são as melhores formas para minimizar a propagação. A oferta de leitos em UTI, estrutura hospitalar adequada e número de profissionais da saúde e equipamentos como respiradores mecânicos ajudam a reduzir o número de casos fatais.

O que se observa em muitos países, porém, é a falta de isolamento máximo e lacuna nos sistemas de saúde.

Cerca de metade da população mundial está hoje em alguma forma de isolamento, mas, na prática, o isolamento não tem sido adotado com a devida importância. Não são poucos os países em que seus políticos e o setor dos grandes empresários, banqueiros e a fins fizeram de tudo e ainda o fazem para evitar ou até mesmo combater o isolamento como ferramenta adequada. Itália, Espanha, EUA, Reino Unido (que juntos registram mais de 470 mil casos confirmados) são alguns destes países.

Mas o problema é ainda mais profundo. Mesmo nos países em que a elite política se viu obrigada a adotar medidas de isolamento, há setores não essenciais que são mantidos em funcionamento obrigando trabalhadores a arriscarem suas vidas e as de seus familiares e amigos. Afinal, a vida é importante, mas… temos que pensar na economia. No Brasil, há cidades como Rio Branco (AC) em que o preço das UTIs em hospitais particulares passou de R$ 1.200,00 para R$ 4.000,00 durante a pandemia.

Só na Itália, país até o momento em que mais pessoas morreram devido ao Covid-19 (14 mil), estourou o número de greves em todos os cantos do país. Lutando para preservar suas vidas e de seus familiares e amigos, trabalhadores italianos de diversos setores, em diversos estados da Itália têm realizado greves a fim de efetivar um isolamento social máximo — mantendo apenas os setores essenciais (para a vida, não para a economia). O movimento culminou, no último dia 25, em uma greve nacional no país.

E Itália não é exceção. A expropriação e espoliação dos trabalhadores segue firme em diversos locais. No Brasil, por exemplo, foi decretada a Medida Provisória nº 927 (MP), a qual ao alterar as leis trabalhistas durante período de pandemia acaba com a estabilidade de emprego dos trabalhadores, flexibiliza os acordos de trabalho – colocando-os inclusive na esfera de negociações individuais entre trabalhador/patrão -, retira o pagamento do FGTS em caso de o trabalhador contrair o coronavírus por se expor ao ir trabalhar, dentre outras medidas que interferem diretamente na saúde, segurança e estabilidade dos trabalhadores em nome dos interesses exclusivos do empregador e do lucro.

Reflexo disso são as greves. Em Londres (Reino Unido), trabalhadores dos correios adotaram a greve como forma de deter a propagação do vírus. No Canadá, trabalhadores da Fiat interromperam suas jornadas. Em Nova Iorque (EUA), trabalhadores da Amazon e entregadores fazem greve; o estado registra 83 mil casos confirmados e quase 2 mil mortes.

No momento, acabamos de registrar 1 milhão de casos de pessoas infectadas pelo novo coronavírus e tudo indica que estamos apenas no início do contágio. Após dois anos de pandemia causada pelo influenzavírus H1N1 (gripe espanhola), logo após a 1ª Guerra Mundial entre os países imperialistas, cerca de 50 milhões de pessoas morreram no mundo entre as 500 milhões de pessoas infectadas. Qual será o resultado da nova pandemia, gerada pelo Covid-19, ainda não é fácil de se estimar. Mas sabemos o que fazer para minimizar seus efeitos. A luta contra o coronavírus é também a luta entre classes: entre os que vivem somente do trabalho e aqueles que vivem do trabalho alheio.

Os textos de opinião são de responsabilidade dos autores e não representam, necessariamente, as posições do Jornal.


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