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Extradição de Assange para os EUA é pautada novamente

O fundador do Wikileaks corre risco de vida caso seja extraditado para os Estados Unidos

Pixabay/CaitlinJohnstone
Por Flora Gomes, redação do Universidade à Esquerda
29 de outubro, 2021 16:59

Julian Assange está preso desde 2019 na Inglaterra. Em Janeiro deste ano, o pedido de extradição feito pelos Estados Unidos foi negado pela Corte Britânica. O entendimento foi de que este procedimento colocaria em risco a vida do fundador do Wikileaks. Contudo, a liberdade sob fiança foi negada ao jornalista, abrindo margens para que o Governo norte-americano pudesse apresentar um pedido de apelação. Assange revelou diversos crimes cometidos pelos EUA em operações militares no Iraque e Afeganistão e é acusado pelo governo norte-americano de “crimes de invasão”,  “espionagem” e “conspiração”. 

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O fundador do Wikileaks foi preso em 2010 após revelar, por meio do vazamento de documentos secretos do governo, os crimes encabeçados pelos EUA no Oriente Médio.  Foram publicizados mais de 250 mil documentos, nos quais constavam informações sobre  as operações no Afeganistão e no Iraque, revelando que estas mataram milhares de civis e que os militares torturaram presos nestas invasões. Estes dados não haviam sido trazidos a público pelo Governo. 

A política contra a liberdade de expressão foi tocada mediante uma falsa acusação de que Assange supostamente teria cometido crimes sexuais na Suécia, Posteriormente revelou-se que as acusações eram falsas. Na época, contudo, o jornalista só foi liberado mediante o pagamento da fiança. 

Entretanto, como temia uma extradição para os Estados Unidos, onde poderia ser punido severamente por revelar as entranhas violentas da organização do Estado norte-amerciano, o fundador do Wikileaks buscou asilo político na embaixada equatoriana em Londres. O asilo foi concedido pelo então presidente Rafael Correa em 2012. Em 2019, o jornalista foi preso neste local a pedido do próprio embaixador do Equador. 

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No início deste ano, o pedido de extradição do governo norte-americano foi negado pela Justiça Britânica. Segundo os laudos médicos, Assange estava com sua saúde extremamente debilitada e poderia cometer suicídio nos EUA. O sistema carcerário do país realiza práticas de punição extremamente severas, principalmente contra presos políticos como Assange. A Suécia já havia retirado seu pedido de extradição antes da deliberação quanto ao pedido dos EUA, alegando que não havia fundamentos para respaldar a condenação do jornalista. 

Com o impedimento do pagamento da fiança, a Justiça Britânica analisa o pedido de apelação dos EUA que foi enviado nesta semana. Desta vez, o governo argumenta que a Corte poderia determinar o local onde Assange cumpriria pena. 

Ainda que a administração da Casa Branca desde a prisão de Assange em 2019 tenha passado das mãos do Republicano Donald Trump ao Democrata Joe Biden, a política contra a liberdade de expressão continua a mesma. 

O jornalista revelou informações políticas importantes e consistentes sobre a natureza do Estado norte-americano. Conforme apontou Zizek em um texto traduzido pelo Allan Kenji para o UàE:

É por isso que é absolutamente imperativo tirar o controle da internet do capital privado e do poder do Estado, de submetê-la inteiramente ao debate público. Quando o Google encontrou o WikiLeaks (Boitempo, 2015), livro de Assange, estranhamente ignorado, contém páginas profundamente justas sobre esse tema: afim de compreender como nossas vidas são controladas hoje e como esse controle é experimentado como se fosse liberdade, é preciso antes e acima de tudo compreender a relação muito obscura entre as empresas privadas que controlam nossos bens comuns e as agências de inteligência dos Estados.

Por isso, conforme apontou Maria Alice de Carvalho:O trabalho jornalista de divulgar e ajudar a desvelar a realidade deve ser defendido e protegido de qualquer ataque. A prisão de Assange e sua possível extradição devem ser combatidas por todos que defendem a liberdade de imprensa.”


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