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Editorial

Editorial: Eleger Lula e ter a coragem de enfrentar o bolsonarismo

Montagem UàE. Fotos: Agência Brasil e UàE.
18 de outubro, 2022 Atualizado: 15:09

Neste dia 30 de outubro é necessário derrotar Bolsonaro nas urnas. Mais que isso, é preciso criar no presente as condições futuras para que o Bolsonarismo possa ser vencido definitivamente nas ruas e nas lutas e que a classe trabalhadora possa avançar, deixando de ser refém de ameaças fascistas que lhe empurram para a ideia de que não há outro destino senão a conciliação de classes.

Não nos isentamos de uma posição pelo voto em Lula, com todas as críticas que carregamos ao que representa hoje o Partido dos Trabalhadores, pois não podemos subestimar o perigo real da reeleição de Bolsonaro e de seu governo. Ainda que, pela primeira vez na história brasileira, o Presidente em exercício tenha ficado em segundo lugar no primeiro turno, Bolsonaro segue demonstrando ser capaz de capitanear os descontentamentos de parcela nada desprezível das massas de trabalhadores e de setores da burguesia. 

A campanha do atual Presidente da República, apostou na instrumentalização da crise e da miséria que seu governo ajudou a criar e aprofundar: a ampliação do auxílio Brasil; os auxílios para caminhoneiros e taxistas; a diminuição artificial do preço dos combustíveis (sem alterar a política de preços da Petrobrás) e as emendas parlamentares do orçamento secreto que devastou as contas públicas de forma definitiva na compra de apoio das burguesias regionais e do legislativo, entre outras. Teve êxito e conquistou o voto pragmático de milhões de trabalhadores brasileiros pressionados pela miséria, o desemprego e a fome. Essa continua sendo sua principal estratégia de campanha para o segundo turno.

A vitória eleitoral, que está ao alcance das mãos de Bolsonaro, seria mais uma derrota significativa para os trabalhadores brasileiros. Sua reeleição lhe daria mais capacidade para dirigir com maior violência sua política econômica. A reeleição seria o sinal, tão aguardado, pelos setores protofascistas de que a maioria dos eleitores apoia e referenda o avanço do golpe e suas consequências nefastas.

Consideramos que a estratégia do PT de ganhar as eleições no primeiro turno e se diferenciar do Bolsonarismo oferecendo um tom conciliador – que vimos no esvaziamento dos atos, no evitamento de grandes protestos de massas, na inação de sindicatos e na desocupação simbólica das ruas com bandeiras e símbolos (mesmo no dia do pleito) – contribuiu para que o Bolsonarismo ocupasse os espaços públicos como se representasse as maiorias e detivesse a razão histórica. Em um país no qual cerca de 23% dos eleitores não votam porque pensam que não faz qualquer diferença e 10% dos eleitores decide seu voto no dia das eleições, o sentimento de que o “time” Bolsonaro estava mais forte certamente influenciou o resultado eleitoral. Não acreditamos que existam 51 milhões de protofascistas no Brasil. O que há é o voto pragmático, a desilusão política, o utilitarismo e o desespero criado pela ameaça da fome e da miséria.

Enquanto estimula suas bases a vestir o verde-amarelo, a demonstrar o seu apoio nas ruas, nos atos e manifestações, mas também no dia-a-dia, organizadas nos núcleos familiares, nos grupos de igreja, de bairro, etc; Bolsonaro tem do outro lado a circulação do medo e da hesitação, frutos da própria desorganização dos trabalhadores produzida nas últimas décadas. Ao fim e ao cabo temos um cenário muito duro para nossa classe. A pragmática utilitarista tornou-se quase toda a racionalidade eleitoral. Colhemos os efeitos de anos de desorganização da classe trabalhadora. A eleição tornou transparente a força da fragmentação e do individualismo e seus efeitos. 

Se por um lado, afirmamos com convicção a necessidade de votar em Lula e derrotar Bolsonaro nas urnas, por outro isto não pode nos acomodar. Nós não podemos permitir que nossa classe passe mais 4 anos quebrada em mil pedaços, desorganizada, desconectada de projetos de transformação para o Brasil. Após as eleições e mesmo após a transmissão da faixa presidencial o bolsonarismo continuará presente, nós aguardaremos as próximas eleições para enfrentá-lo? Em que estado nossa classe chegará lá se esse for o caminho adotado? 

Com coragem e com altivez vamos eleger Lula. E com coragem e altivez vamos nos pôr a tarefa de reorganizar os trabalhadores brasileiros para enfrentar o bolsonarismo, para enfrentar o individualismo, para não ficarmos conformados com o lulismo. É hora de os trabalhadores brasileiros recomporem suas forças e juntos, como classe, sermos novamente decisivos na vida política nacional!


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