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102 anos da Reforma Universitária de Córdoba: parte 1

15 de junho, 2020 Atualizado: 13:10

A Reforma Universitária de Córdoba de 1918, na Argentina – cujas raízes se encontram no liberalismo do final do século XIX -, pôs fim ao regime oligárquico que então governava a Universidade Nacional de Córdoba (UNC) e teve um impacto direto na democratização das universidades em toda a América Latina. Durante essa semana, iremos trabalhar com uma série de textos de resgate histórico desse processo, para que possamos nos inspirar naqueles que já lutaram por uma universidade emancipada.

A Universidade Nacional de Córdoba (UNC) – uma das universidades mais antigas da América Latina – foi fundada pelos jesuítas em 1613, na época da colonização espanhola, e tinha cerca de 1500 estudantes em 1918. A Universidade ainda carregava no seio da instituição características coloniais, racistas, elitistas, nepotistas, clericais (mesmo depois da sua secularização no século XIX) e distante das correntes científicas da época; o que contrastava fortemente com as mudanças políticas, econômicas e sociais ocorridas no país e no mundo.

Em 1918, havia cinco universidades públicas no país, a de Buenos Aires, de Córdoba, de La Plata, de Tucumán e do Litoral (Santa Fé). Os primeiros centros estudantis surgiram na Universidade de Buenos Aires, nas faculdades de Medicina, Engenharia e Direito, entre 1900 e 1905. Posteriormente, em 1908, foi fundada a Federação Universitária de Buenos Aires (FUBA), à qual os centros estudantis se aliaram.

Nesta época, a Universidade de Córdoba era governada pelo que o sociólogo argentino Agulla denominou “aristocracia doutoral”, pois o controle e o acesso às universidades era controlado por uma parcela muito específica da população. Ramón José Cárcano, historiador e político conservador, que governou a província de Córdoba de 1913 a 1916, sustentava que “a Universidade é uma sociedade autônoma fechada”; pensamento que dominava os setores da administração universitária. Córdoba foi o exemplo mais extremo do elitismo e da obsolência que caracterizou as universidades argentinas e latino-americanas.

Na Argentina, desde o início do século XX, o movimento estudantil iniciava sua organização através de centros estudantis por faculdade, federações por universidade e uma federação nacional dos estudantes. Dois importantes momentos de enfrentamento estudantil, que precederam a Reforma Universitária de 1918, valem ser lembrados: o Movimento Pró Reforma Universitária de 1871, que reivindicava a autonomia universitária, o ensino gratuito e a liberdade de cátedra; e as greves de 1903 e 1905, que possuíam como reivindicação a representatividade estudantil no governo da universidade, a qual deveria ser governada por todos os professores, além de autonomia científica e financeira. Ambos os acontecimentos se deram na Universidade de Buenos Aires e desembocaram na Reforma Universitária de 1906.


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